Do BE ao Chega. Partidos trocam críticas sobre imigração à la carte

António Costa defendeu pacto entre a União Europeia e África que regule migração. Catarina Martins criticou a economia que vive da “miséria e da exploração” de imigrantes

Foto
Catarina Martins já anunciou que não se vai recandidatar a coordenadora do BE LUSA/FERNANDO VELUDO

O primeiro-ministro subscreveu a proposta do presidente do Conselho Europeu para um pacto entre a Europa e África que regule o fluxo migratório, punindo os grupos criminosos que traficam pessoas, mas também promovendo canais legais de migração.

António Costa considera que é também necessário definir canais de migração legais. “Temos que encontrar aqui uma solução que seja positiva para todos, porque a Europa indiscutivelmente precisa de mais recursos humanos" e "África tem recursos humanos em abundância", defendeu este domingo o primeiro-ministro, em declarações à Lusa, à margem da 36.ª Cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Africana, que decorreu, em Adis Abeba, e na qual participou como observador, sendo o único governante não africano presente.

Este fim-de-semana os partidos falaram de imigração, um pouco no rescaldo das polémicas declarações do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, que, em entrevista ao PÚBLICO e à Renascença, desafiou o Governo a estabelecer limites por sectores de imigração e criticou que seja possível a entrada de imigrantes em Portugal sem contrato de trabalho.

O PS cavalgou a polémica e, na sessão de encerramento do Fórum das Migrações, organizado pelo partido, a ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, repudiou “qualquer tipo de discriminação a qualquer cidadão estrangeiro em Portugal" e disse que a "construção de uma sociedade decente não é compatível com o regime de quotas para migrantes, não é compatível com uma imigração 'a la carte', como propõe o doutor [Luís] Montenegro." O líder do PSD entende que o país deve receber imigrantes “de forma regulada” e “procurar pelo mundo” as comunidades que possam interagir melhor com os portugueses.

"Rejeitamos e rejeitaremos sempre uma imigração que parece ser proposta agora pelo líder do PSD, que é a imigração "a la carte", ou proposta pelo engenheiro Carlos Moedas, que é “voltemos às quotas’”, disse a ministra.

Para Ana Catarina Mendes, “a política de imigração exige que olhemos para ela com o realismo necessário, o bom senso que se exige e, sobretudo, com a capacidade de responder à dignidade que cada ser humano merece, seja português, seja estrangeiro, tenha fugido das alterações climáticas, da fome, de uma ditadura de qualquer circunstância que o tenha levado a procurar aqui um porto de abrigo.”

O Bloco abordou o tema de um outro ângulo. A coordenadora do BE, Catarina Mendes, que está de saída da liderança do partido, criticou a economia que vive da “miséria e da exploração” de imigrantes, nomeadamente a agricultura intensiva, que disse estar a deixar um “rasto de desastre” no território português.

“A agricultura intensiva está a deixar o rasto do desastre nos solos, completamente deteriorados, como está a deixar o rasto do desastre humano que é uma economia que vive da miséria e da exploração”, insurgiu-se Catarina Martins no discurso que proferiu sábado, no encerramento da iniciativa “Semear Coesão - o Encontro do Interior do Avesso 2023.”

O líder do Chega, André Ventura, aproveitou a visita que fez este sábado ao Bairro da Mouraria, em Lisboa, onde recentemente morreram dois imigrantes num incêndio, para defender um “consenso à direita” para mudar a política de imigração e introduzir, por exemplo, cuidados na entrada de cidadãos de “zonas onde há presença de “extremismo islâmico muito forte”, observando que “bom senso” não significa “portas completamente abertas.” A farpa era para o Presidente da República que pediu ao PSD para ter “bom senso” em matéria de imigração.

Quando a visita terminou, Ventura afirmou, em declarações aos jornalistas, que se deslocou o Bairro da Mouraria para “ver de perto uma zona da cidade onde a imigração é preponderante” e os problemas que lhe estão associados, sejam em relação à habitação, sejam do ponto de vista da entrada de cidadãos estrangeiros.

André Ventura considera que a entrada, sem controlo, de cidadãos de países como o Paquistão ou o Afeganistão pode vir a causar no futuro “problemas de segurança." Com Lusa

Sugerir correcção
Ler 5 comentários