África está a ser vítima de “extorsão” pelo sistema financeiro, acusa Guterres

O secretário-geral da ONU defendeu, na abertura da cimeira da União Africana, a “transformação radical” do sistema financeiro mundial, de modo a permitir o desenvolvimento dos países africanos.

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António Guterres discursando na sede da União Africana este sábado JOSE SENA GOULAO/EPA

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, denunciou este sábado a “extorsão” de que o continente africano está a ser vítima às mãos do sistema financeiro mundial, que impede os países africanos de desenvolver os seus “sistemas vitais”. O ex-primeiro-ministro português considera que é preciso uma “transformação radical” do sistema financeiro para conseguir contrariar esta tendência.

Num discurso na abertura da 36.ª cimeira da União Africana, em Addis-Abeba, na Etiópia, o secretário-geral da ONU disse que, por norma, “o sistema financeiro mundial nega” aos países africanos “o alívio da sua dívida ou qualquer financiamento em condições favoráveis, ao mesmo tempo que cobra juros exorbitantes”.

É por isso que “os países africanos não podem investir em áreas fundamentais”, como a saúde, a educação, a tecnologia ecológica, a protecção social ou a criação de empregos sustentáveis, ao mesmo tempo que são obrigados a subir “a escada do desenvolvimento com uma mão amarrada atrás das costas”.

Para demonstrar a sua posição, Guterres usou o exemplo da dívida pública na África subsariana, que, segundo os números do Fundo Monetário Internacional, atingiu o ponto mais alto em mais de duas décadas.

Vários governos solicitaram acordos de reestruturação da sua dívida para facilitar a saída da crise, no entanto, o processo está atrasado. Outros países, como o Quénia, que não quiseram participar no programa de reestruturação, viram cair os indicadores de sustentabilidade da sua dívida, especialmente pelo impacto da pandemia de covid-19.

“Precisamos de uma nova arquitectura da dívida que traga alívio e reestruturação da dívida aos países vulneráveis, incluindo os países de rendimento médio, ao mesmo tempo que permita a suspensão imediata da dívida e das amortizações aos países que dela necessitam”, defendeu o secretário-geral da ONU.

Neste sentido, e como fez noutras ocasiões, Guterres pediu às instituições financeiras multilaterais de desenvolvimento que transformem o seu modelo de negócio de modo a permitir outra abordagem à questão do risco. Uma das opções passaria pelo “aproveitamento massivo dos seus fundos para atrair maiores fluxos de capital privado”.

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