Ponte aérea entre Lisboa e Porto é “uma aberração ambiental”, diz Manuel Tão

O especialista em transportes da Universidade do Algarve critica a falta de investimento de Portugal na ferrovia.

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A linha aérea da TAP entre Lisboa e Porto tem 250 quilómetros STEPHANE MAHE/REUTERS

O especialista em transportes Manuel Tão defendeu que a ponte aérea entre Lisboa e Porto, com menos de 300 quilómetros, é "uma aberração ambiental", que, no caso da TAP, é subsidiada pelos contribuintes.

"Como é que nós podemos ainda hoje ter uma empresa pública e que foi nacionalizada, como a TAP, que foi resgatada com fundos dos nossos dinheiros públicos e que mantém uma aberração ambiental, que é uma linha aérea entre Lisboa e Porto, que tem 250 quilómetros? No fundo, nós contribuintes, estamos a subsidiar um transporte que é, ele próprio, um atentado ambiental", defendeu Manuel Tão.

O especialista em transportes da Universidade do Algarve falava em entrevista à agência Lusa, a propósito do Plano Ferroviário Nacional (PFN), apresentado em meados de Novembro e que se encontra actualmente em fase de consulta pública, até 28 de Fevereiro.

Relativamente ao PFN, o especialista em transportes não antevê que problemas de nível ambiental sejam um constrangimento para que uma parte significativa desse plano venha a tornar-se realidade. "Em qualquer coisa como três décadas, construíram-se três mil quilómetros de novas auto-estradas e não me recordo de qualquer tipo de problema ambiental na construção de auto-estradas", apontou.

Para Manuel Tão, a aposta na rodovia, em detrimento da ferrovia, nos últimos 37 anos, desde a adesão de Portugal à União Europeia (então Comunidade Económica Europeia), tratou-se de "um grande equívoco da classe política" no Governo.

"[Os governantes] confundiram um modelo americano com o modelo europeu, isto é, [entenderam] que aquilo que seria uma mobilidade garantida pelo automóvel particular tinha a virtuosidade de ter efeitos de crescimento económico e desenvolvimento do território que realmente não teve. Aquilo que nós hoje somos é praticamente um país rodoviário. Estamos completamente dependentes de um recurso que não temos, que é o petróleo", apontou.

Segundo o especialista, o que o Estado paga a cada três anos às parcerias público-privadas das auto-estradas equivale a uma linha ferroviária de alta velocidade Lisboa-Porto.

Pelo contrário, exemplificou, Espanha, que aderiu à União Europeia ao mesmo tempo, construiu "mais de 4000 quilómetros de novas linhas de caminho-de-ferro".

Com aquele investimento, ligar Madrid e Barcelona, que distam cerca de 600 quilómetros, deixou de significar oito horas e meia de comboio para passar a levar pouco mais de duas horas.

"Nós estamos, de facto, num caminho completamente oposto daquilo que é o paradigma europeu e da União Europeia de descarbonização, de aliviar outro tipo de efeitos negativos do transporte aéreo e transporte rodoviário a nível do congestionamento, ou a nível da sinistralidade", acrescentou Manuel Tão.

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