A autonomia das universidades e a liberdade de inovar

A qualidade é a adequação ao propósito e está nos olhos de quem vê. A educação aberta é paixão, envolvimento, acesso, eficácia, impacto, disponibilidade, precisão, é ser bom no tempo.

As universidades existem para enfrentar o desconhecido. Por isso devem ser autónomas, ou seja, dispor de liberdade para se organizar, ensinar, investigar e relacionar de forma adequada, sem constrangimentos externos.

Está em discussão a revisão do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior. É tempo de pensar o que significa a autonomia e a sua importância para o desenvolvimento das universidades.

É nossa tese que as universidades devem transformar-se para criar ecossistemas de inovação. Num tempo em que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ganham força, "Verde" e "Digital" tornam-se "grandes ideias" e leitmotivs do debate. As universidades devem colaborar entre si e com o exterior para enfrentar os desafios da transição digital e da sustentabilidade segundo modelos social e digitalmente integrados que respondam aos desafios globais.

As universidades devem criar estruturas e mecanismos adequados ao desenvolvimento de projetos de inovação social e digital; incorporar as prioridades societais e de sustentabilidade de forma sistémica, constituindo-se como protagonistas da cidadania; abraçar a inter e a transdisciplinaridade na investigação e ensino; promover a colaboração intersetorial e multiator; incentivar a utilização da Inteligência Artificial (IA); fortalecer a mobilidade de pessoas com as empresas e potenciar a transferência do conhecimento; promover a aprendizagem inteligente e criar sistemas de aprendizagem flexíveis, acessíveis e adaptativos para todas as pessoas; desenvolver novos currículos apoiados em competências "verdes", digitais e éticas para garantir a utilização efetiva da IA (ferramentas como o ChatGPT devem ser vistas como avanços de apoio às aprendizagens); dar relevância à qualidade de vida das pessoas.

Devem, em suma, rever as suas missões e formas de atuar, definindo bem os seus perfis institucionais, de modo diferenciado e complementar.

Segmentar as funções das universidades é um erro. As universidades devem ensinar o que investigam e transferir o conhecimento de forma tendencialmente livre ou reinvestindo os capitais obtidos.

No futuro, o ensino será híbrido ou online apoiado em novas metodologias de aprendizagem e os estudantes serão avaliados diferentemente. A investigação estará ligada ao ensino e à transferência do conhecimento. Tudo isso exige avultados investimentos, públicos e privados.

As universidades devem investir em programas de aprendizagem adaptativa, em tecnologias de ensino e aprendizagem colaborativas e recursos digitais, em ensino online em qualquer lugar do mundo. Devem criar programas que ofereçam aos estudantes a experiência de colocarem em prática os seus talentos e conhecimentos, trabalhando em organizações e combinando objetivos de aprendizagem com serviço à comunidade. Os participantes devem ser formados em computação e educação digital, aprender a pensar de forma crítica e criativa e a autorregularem as suas práticas cada vez mais disruptivas. Devem, também, aumentar os níveis de colaboração e empatia nos processos de ensino e aprendizagem.

A investigação deve ter impacto social e ser inovadora. É preciso criar laboratórios "abertos" que contribuam para o aumento da educação científica e o envolvimento das pessoas na definição das agendas de investigação. As novas tecnologias de informação e a IA favorecerão abordagens democráticas na gestão e transferência do conhecimento para a sociedade.

Os ODS devem integrar novos currículos e agendas de investigação a uma maior escala. Na Sociedade e Indústria 5.0 (com máquinas e pessoas trabalhando juntas), a sociedade está no centro do sistema de inovação. Educação, Investigação e Inovação serão promovidas pelas universidades, empresas e outros atores, que desenvolverão formas de aprendizagem ao longo da vida flexíveis e no local de trabalho.

As universidades devem ouvir as comunidades, reconhecer a natureza e pertinência social da sua intervenção e assumir a responsabilidade de atuar contra o recuo democrático. A estrutura de inovação quádrupla e quíntupla de hélice (Carayannis e Campbell), que descreve as interações entre universidade, indústria, governo, público e ambiente numa economia do conhecimento, sustenta que só uma democracia do conhecimento evoluída fomenta o conhecimento e a inovação.

Defendemos uma universidade social e digitalmente comprometida que assuma novos papéis. Funcionará como local de "prototipagem" de uma cultura humanista, com desenvolvimento tecnológico e a criação de capital de poder, ou seja, integrando "sociedades superinteligentes" onde pessoas, conhecimento, tecnologia e inovação partilhados favorecem o bem-estar social.

No futuro, aumentará a competição entre universidades na procura de visibilidade e financiamento num contexto de grandes desafios demográficos (urbanização, envelhecimento da sociedade e diminuição da natalidade) e de mudança para uma sociedade mais tecnológica. As universidades terão de lidar com a necessidade de operar num contexto global (digital) adaptando os seus currículos, ainda nacionais. É uma realidade complexa para a qual se exige um equilíbrio entre o ensino (a tecnologia e a inovação digital ganharão peso), a investigação (que deve ser relevante para as comunidades) e a prática (os estudantes devem ser preparados com competências para o mercado de trabalho).

São tempos exigentes para o ensino superior e para os professores/investigadores, que devem desenvolver novas habilidades, uma nova capacidade de lidar com mudanças rápidas e novas perspetivas para uma vida profissional plena. A educação ao longo da vida será a expressão de um ensino inovador que responderá às necessidades das pessoas que só estas conhecem.

A educação é fundamental para o progresso pessoal e para a coesão social e política. Como professores e dirigentes de uma universidade pública de educação a distância, destacamos o facto de o ensino aberto, online e a distância não só requerer inovação, repensamento, mudanças sistémicas, novas estratégias organizacionais, mas também estar na vanguarda. Não temos dúvidas de que, no campo operacional, as tecnologias e práticas digitais darão suporte à alteração de dimensões principais das universidades, designadamente na governança. Para se alterarem e reposicionarem, as universidades precisam de ser autónomas e dispor de meios.

Este artigo visa suscitar o debate.

Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico

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