Humanos precisam de dormir mais no Inverno, mostra estudo

Em média, as pessoas dormem mais 30 minutos nos meses mais frios. Os dados são de um estudo feito em Berlim, que sugere que as pessoas “precisam de ajustar os hábitos de sono” à estação do ano.

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As pessoas podem precisar de 30 minutos a mais de sono no Inverno SHANE/Unsplash

É normal dormir mais horas durante o Inverno. Embora os seres humanos não hibernem, uma investigação publicada esta sexta-feira pela revista Frontiers in Neuroscience sugere que as pessoas precisam de descansar mais quando as temperaturas baixam e a luz solar diminui. Mesmo quando têm distúrbios de sono ou vivem em ambientes urbanos onde a utilização de luz artificial é normal.

A conclusão baseia-se na monitorização dos padrões de sono de 188 pacientes da Clínica para o Sono e Cronomedicina, do Hospital St. Hedwig, na Alemanha, ao longo de um ano (2019). Todos os meses, uma equipa do hospital e da Universidade de Berlim media a qualidade do sono dos participantes ao longo de três noites. Os testes eram feitos num laboratório onde os participantes tinham de adormecer e acordar sem ajuda. Ninguém tomava medicação para dormir. Em média, as pessoas dormiam mais tempo nos meses mais frios, embora não tivessem qualquer alarme para as acordar.

“O nosso estudo mostra que a arquitectura do sono humano varia substancialmente ao longo das estações do ano numa população adulta que vive num ambiente urbano”, resume o psiquiatra Dieter Kunz, da Universidade de Berlim, na apresentação das conclusões do estudo que surge na mais recente edição da revista Frontiers in Neuroscience.

Há anos que Dieter Kunz se foca em distúrbios do sono. “Possivelmente uma das conquistas mais preciosas na evolução humana é o facto de o impacto da sazonalidade a nível comportamental ser quase invisível", notou.

A qualidade do sono no Verão e no Inverno é um dos vestígios do impacto. Apesar de os pacientes acompanhados no estudo viverem em ambientes urbanos, com muita luz artificial, os investigadores encontraram diferenças claras na qualidade do sono ao longo do ano. Em média as pessoas dormiam uma hora a mais no Inverno, e passavam 30 minutos adicionais na fase REM.

O REM (sigla inglesa para movimento rápido dos olhos) corresponde à fase do sono mais associada aos sonhos em que os olhos se movimentam rapidamente. Durante esta fase, a respiração, o ritmo cardíaco, a pressão sanguínea e a actividade cerebral de uma pessoa aumentam, enquanto os músculos dos braços e pernas ficam temporariamente paralisados. É nesta fase que o corpo repara o tecido ósseo e muscular. O sono REM também é importante para processar experiências e conhecimentos adquiridos ao longo do dia – ou seja, desempenha uma função importante ao nível da aprendizagem e da memória.

A equipa de Berlim acredita que os resultados do estudo mostram como o tempo de sono REM está associado ao ritmo circadiano (palavra oriunda do latim que quer dizer “cerca de um dia”) das pessoas, ou seja, à relação que o corpo e o cérebro estabelecem com o nascer e o pôr do Sol. "Embora continuemos a ter um desempenho inalterado, durante o Inverno a fisiologia humana está desregulada, com uma sensação de que estamos a ‘correr sem combustível’ em Fevereiro ou Março”, explica, em comunicado, o psiquiatra Dieter Kunz.

O investigador espera que o trabalho feito em Berlim motive mais profissionais a estudar as diferenças no sono ao longo do ano. Os dados da equipa de Kunz também mostram que o sono profundo diminui significativamente no Outono – um factor que os investigadores ainda não conseguem explicar. "Este estudo precisa de ser replicado", defende Kunz, alertando, no entanto, que a experiência mostra que as estações do ano têm um impacto na qualidade do sono.

"A sazonalidade é omnipresente em qualquer ser vivo deste planeta", frisa Kunz. "Em geral, as sociedades precisam de ajustar os seus hábitos de sono, incluindo a duração e horário [de sono], à estação", explica. "Ou ajustar os horários escolares e de trabalho às necessidades sazonais do sono."

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