Malditos sejam os donos da guerra

Porque não negociar e apresentar de parte a parte cedências dignas e que impeçam este abismo dos donos da guerra?


A invasão da Ucrânia pela Rússia criou na Europa uma situação extremamente perigosa. Seguramente já foram mortos centenas de milhares de ucranianos e russos, sem falar nos refugiados e da destruição da Ucrânia. Por outro lado, a perceção da guerra entre o invasor e o invadido diluiu-se para emergir uma guerra entre a Rússia e os EUA/NATO/UE. Assim o quiseram os ocidentais com a sra. Ursula à frente.

Zelensky cumpre bem o seu papel reclamando mais armamento para obter a vitória ou responsabilizar o Ocidente pela sua eventual derrota.

De um outro ângulo, há quem clame contra a redefinição de fronteiras (o que em abstrato estaria certo) e esquece o recente desmembramento levado a cabo da Jugoslávia e a sua ulterior alteração das fronteiras agravada com a criação totalmente artificial do Kosovo. Então, os EUA não pretendem impor a alteração das fronteiras da China? A ONU só reconhece a existência de uma China. Fala-se, por outro lado, de crimes de guerra (e bem) e porque se esquecem os dois maiores crimes de guerra de todo o sempre, os bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki?

Soube-se recentemente, através das declarações de Merkl , Hollande, Poroshenko, ex-presidente da Ucrânia, que os Acordos de Minsk serviram apenas para os EUA/NATO ganharem tempo e rearmarem o exército ucraniano a fim de empurrarem para a Rússia os falantes de língua russa.

De seguida o pedido de adesão da Ucrânia à NATO colocou em cima da mesa a segurança russa, como era de esperar. Claro que a Ucrânia é livre de pedir o que entender, mas toda a gente sabe que o mesmo se passou com Cuba. É bom ter presente que Reagan declarou que jamais aceitaria uma base militar soviética na Nicarágua.

Os dados são claros: a Rússia não aceita sair da Ucrânia sem os territórios ocupados onde se encontra a população russófona e o Ocidente repudia esse objetivo. Tal significa que a guerra vai continuar e provavelmente com maior intensidade.

Porque não negociar e apresentar de parte a parte cedências dignas e que impeçam este abismo dos donos da guerra? Quem se apresenta com uma única saída, a derrota da outra parte, sabe que tal não vai ser possível. Quem defende que é preciso derrotar militarmente a Rússia, e dado que a Ucrânia por si só não é capaz de o fazer, tem de responder a esta questão: os problemas entre a Ucrânia e a Rússia valem uma guerra mundial?

Os ditos valores da Ucrânia são os de um Presidente que até às vésperas de tomar posse usava offshores e proibiu a população russófona de falar russo. Isto vale uma guerra entre a NATO e a Rússia? Os interesses de Zelensky e a sua entourage de oligarcas encartados não pode determinar o destino do mundo. Krutchov retirou os mísseis de Cuba e, no entanto, aquele país não se importava de os ter.

Acresce ser a primeira vez que uma guerra desta dimensão não gera um estremecimento na opinião pública. Os europeus baixam a cabeça e seguem a enxurrada comunicacional; tudo parece não passar de uma espécie de jogos de guerra, o comunicacional vai substituindo a realidade crua da guerra. A morte de centenas de milhares de gente nova entrou na normalidade. Aqui ou na Palestina de que se não fala, apesar da ocupação militar israelita.

Parece que, de alienação em alienação, segue o cortejo do entretenimento como se a Humanidade fosse um bando de carneiros a caminho do precipício, sem olhar para o seu semelhante. Refira-se que no Livro dos Mortos do Egito (1470 A.C.) era pecado/falta muito grave, que podia levar à desintegração da alma do morto, não ter sido solidário com os outros homens e já passaram quase quatro mil anos.

O mundo não parece inquietar-se quando os generais dos EUA falam da guerra com a China em 2025 pelo simples facto de a China ter ido a jogo, aderindo à Organização de Comércio Mundial, e estar a passar a perna aos americanos.

A financeirização da vida económica leva a uma competição infernal, uma guerra de todos contra todos, o regresso ao homo homini lupus. E aí está a guerra como normal.

O Governo de Portugal decidiu mandar arranjar e entregar à Ucrânia três tanques Leopard 2 em vez de juntar a sua voz à dos países da CPLP, com o Brasil à frente (recusou munições para os tanques que a Alemanha está a enviar para a Ucrânia) que insistem com outros na busca da paz. Costa fez muito mal.

Fazem falta as vozes dos pacifistas que não se deixam confundir com a política de Putin, nem se deixam intimidar por defender a paz contra a decisão militar. Vozes que amaldiçoem a guerra em defesa dos chamados interesses vitais dos EUA, NATO, Rússia, China, Israel, etc. Vozes livres. Vozes da paz. Malditos donos da guerra.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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