Engenheiros mudam o algoritmo do Twitter porque Elon Musk exige aparecer no topo

O alcance do empresário tem vindo a baixar desde que comprou o Twitter. Um tweet de Joe Biden gerou mais visualizações do que um idêntico de Musk. Os engenheiros foram obrigados a alterar o algoritmo.

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Depois da mudança, os tweets de Elon Musk alcançaram cerca de 90% dos seus seguidores Reuters/DADO RUVIC

Os tweets de Elon Musk têm sido destacados no feed de vários utilizadores do Twitter pelo mundo fora – mesmo que não o sigam ou tenham silenciado a conta. A perda de alcance do director executivo do Twitter levou-o a exigir que os funcionários desenvolvessem uma forma de pôr os seus tweets no topo das páginas iniciais, avançou o site especializado Platformer.

Quando as páginas iniciais do Twitter começaram a ser inundadas pelo empresário, vários utilizadores estranharam. Não é novidade que Elon Musk tem perdido alcance nos últimos tempos – o próprio já se queixou publicamente de 95% dos seus tweets não aparecerem na página principal de outros utilizadores.

Com base em documentos e entrevistas com pessoas familiarizadas com o processo, a Platformer conta que James Musk, primo de Elon recentemente contratado para o Twitter, enviou uma mensagem “urgente” para os engenheiros responsáveis pela manutenção da rede social. Dizia que havia “um problema de alcance em toda a plataforma”. Os tweets de Joe Biden e de Elon Musk tinham uma mensagem semelhante – ambos mostravam apoio aos Philadelphia Eagles no Super Bowl –, mas o Presidente dos Estados Unidos alcançou cerca de 29 milhões de pessoas, enquanto o empresário ficou-se pelos nove milhões. Mais tarde, já depois do jogo de futebol americano​, Musk apagou o tweet.

Passado um dia, problema resolvido. O director executivo estava a alcançar 90% dos seguidores, cerca de 116 milhões de pessoas. Os funcionários, acordados pela mensagem de James Musk, enviada às 2h36, construíram um sistema que promove os posts do CEO nas páginas iniciais de todos os utilizadores.

Nessa noite, cerca de 80 pessoas trabalharam e estudaram a causa da perda de alcance do empresário. Concluíram que não seria nada mais do que um espelho dos últimos meses. A perda de popularidade, devido à polémica compra do Twitter e aos despedimentos em massa que se seguiram, traduziu-se num aumento do número de bloqueios e silenciamentos da conta. Ainda assim, os tweets de Elon Musk apareciam apenas metade das vezes esperadas pelos trabalhadores responsáveis pelo algoritmo.

A Platformer garante que, antes de o processo estar terminado, Elon ameaçou despedir os (poucos) engenheiros que restam. Horas depois, a hashtag #BlockElon destacava-se nas tendências do Twitter: quem tinha bloqueado a conta do empresário conseguia evitar os seus tweets.

Antes de 2016, esta mudança de algoritmo não seria possível. Nessa altura, o feed era puramente cronológico, não existia um algoritmo como hoje: não havia tweets recomendados ou com melhor cotação que outros e que, por isso, subiam imediatamente para o topo da página. Quando apareceu o feed algorítmico, o Twitter descrevia-o como um “fluxo de tweets de contas que segues no Twitter, assim como conteúdo recomendado ou outro que achemos que te interesse, com base nas contas e tweets com que interages e mais”.

Em Outubro de 2022, Elon Musk comprou o Twitter por 44 mil milhões de dólares (cerca de 43,6 milhões de euros). Mal entrou na sede, despediu o director-geral executivo Parag Agrawal, o director financeiro e o director de segurança. Desde essa altura, os despedimentos não pararam. Até ao final de Janeiro, cerca de 80% dos trabalhadores da empresa foram despedidos. Nessa altura, sobravam 2300 activos – e o número continua a baixar. Há uns dias, despediu mais um engenheiro.

O empresário disse, esta quarta-feira, que o final de 2023 pode ser uma “boa altura” para encontrar alguém que fique à frente da plataforma. Em videoconferência, na World Government Summit, no Dubai, afirmou que precisa de “estabilizar a empresa e ter a certeza de que está financeiramente saudável e tem um futuro delineado” para sair.

Texto editado por Pedro Rios

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