Machu Picchu reabre a visitas num Peru com turismo adiado

Governo peruano tinha encerrado a cidadela entre os protestos, instabilidade e “greve radical”. Comboios também retomados. Mas aviso de país de “turismo não recomendado” continua em vigor em Portugal.

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Machu Pichu reabre mas turistas contam-se pelos dedos Reuters/ENRIQUE CASTRO-MENDIVIL

Considerada uma das maiores e mais desejadas atracções turísticas do mundo, a cidadela inca de Machu Picchu tinha sido encerrada a 21 de Janeiro por ordens do Governo peruano, que, na altura, justificou a decisão com "a situação social" e com a necessidade de "preservar a integridade dos visitantes". As ligações ferroviárias já estavam cortadas há vários dias e em Águas Calientes, porta de entrada para o monumento, fora declarada uma "greve radical". Esta quarta-feira, Machu Picchu reabriu a todos os visitantes, depois de o comboio ter voltado a circular há cerca de uma semana.

"Esta decisão responde à necessidade de diálogo e paz no quadro do trabalho articulado entre as autoridades e a população, que desejam a retoma da actividade cultural e a reactivação económica de Cusco", lê-se num comunicado agora publicado pelo Ministério da Cultura peruano, responsável pela gestão da cidadela.

No site oficial de Machu Picchu já era possível comprar e reservar bilhetes de entrada. Ao contrário do que acontece em temporadas de normalidade turística, com vários períodos esgotados (existem limites máximos diários de entrada, que ainda no passado originaram muita frustração e raiva em turistas e comerciantes), é possível comprar entradas para qualquer dia, inclusive para esta quarta-feira ainda.

Há uma semana, antecipando a reabertura da cidadela inca Património da Humanidade, foram retomadas parcialmente as ligações ferroviárias a Machu Picchu, suspensas desde o início do ano, altura em que, no meio dos protestos, chegaram a ser colocadas pedras nos carris, impedindo a circulação de carruagens. A retoma das viagens (anunciada para quartas e domingos, duas vezes por dia) foi feita pacificamente, assinalava a AFP a 8 de Fevereiro, testemunhando que no primeiro comboio, vindo de Ollantaytambo, a cerca de hora e meia, viajariam cerca de 80 pessoas, incluindo "uma meia dúzia de turistas".

Um sinal evidente de que o turismo está em stand-by em praticamente todo o território peruano, que vive em instabilidade contínua há mais de dois meses com fortes e massivos protestos, reprimidos violentamente: já terão morrido mais de 60 pessoas. A crise teve como origem a destituição e detenção do Presidente Pedro Castillo,

Desde então, o sector do turismo é dos mais afectados, tendo o Ministério de Comércio Externo e Turismo do Peru, através do ministro Fernando Helguero, confirmado que os cancelamentos no primeiro semestre já andariam "em torno de 50% a 60%.” Com o prolongamento da crise política e protestos, é expectável que esse valor seja muito superior. Em média, fora pandemia, o Peru recebia cerca de 4,5 milhões de turistas por ano, a área de Cusco e Machu Picchu pelo menos 4000 visitantes por dia.

Por todo o mundo, os turistas têm sido aconselhados oficialmente a evitar viagens para o Peru até a situação estabilizar. Em Portugal, numa nota publicada em Janeiro e ainda em vigência na página de Conselhos aos Viajantes, o Ministério dos Negócios Estrangeiros faz vários avisos referentes ao Peru: "Turismo não recomendado. A presente conjuntura leva-nos a manter a recomendação de evitar viagens não essenciais no e para o Peru, em particular por estrada". Em resumo, remata-se, "se pensa viajar para o Peru por motivos não essenciais, adie."

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