Biblioteca de Luis Sepúlveda doada à Póvoa de Varzim

Autarquia vai inaugurar um novo espaço dedicado ao escritor chileno, que recriará ao pormenor o seu escritório em Gijón.

Foto
Carmen Yáñez, viúva de Luis Sepúlveda, discursa no festival Correntes d'Escritas após assinar a doação da biblioteca do seu marido á Póvoa de Varzim ESTELA SILVA/Lusa

A viúva do escritor chileno Luis Sepúlveda (1949-2020), a poetisa Carmen Yáñez, assinou esta quarta-feira, em plena sessão de abertura do festival Correntes d’Escritas, um protocolo de doação à Câmara Municipal da Póvoa de Varzim dos cerca de 3700 livros que compunham a biblioteca pessoal do autor de O Velho que Lia Romances de Amor ou de Patagónia Express.

A autarquia, por seu turno, adquiriu por 18 mil euros todo o mobiliário, e ainda os quadros, as fotografias e outros objectos pessoais que se encontravam no escritório de Sepúlveda em Gijón, nas Astúrias, onde vivia, e vai criar um novo espaço dedicado à memória do autor, que procurará reconstituir em detalhe o seu local de trabalho.

O edifício que está a ser renovado e adaptado para este efeito é um pavilhão de jardim na Casa Manuel Lopes, que pertenceu ao antigo director da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, e cujo corpo principal será destinado a acolher residências literárias.

Presença assídua no Correntes d’Escritas, cuja fundação inspirou, Luis Sepúlveda tinha acabado de participar na edição de 2020 quando foi diagnosticado com covid-19, no dia 29 de Fevereiro, tendo sido a primeira pessoa oficialmente infectada com o vírus na região espanhola das Astúrias, onde se radicara em 1997. Veio a morrer um mês e meio mais tarde, a 16 de Abril.

Justificando a opção de doar a biblioteca do marido à Póvoa de Varzim, e não a Gijón, a sua viúva, a poeta chilena Carmen Yáñez, contou ao PÚBLICO que uma biblioteca próxima do local onde o escritor vivia, e que passou a chamar-se Luis Sepúlveda, recebeu todos os livros que ele próprio escreveu, incluindo as muitas edições estrangeiras de obras suas. “Aqui, na Póvoa, trata-se de recriar o estúdio de Luis Sepúlveda, com os seus livros, os seus prémios, os seus pertences mais emotivos”, explica.

“Desde que criou o Salón del Libro Iberoamericano em Gijón, e começou a convidar uma delegação de escritores portugueses – é daí que nasce o Correntes d’Escritas –, o Luis teve sempre uma relação muito forte com a Póvoa”, diz ainda Carmen Yáñez. E como os dois festivais “tinham o mesmo formato, o mesmo estilo”, ela e o marido sempre se sentiram “em casa” quando atravessavam a fronteira para participar no encontro poveiro.

“Nós somos emigrantes, e antes disso fomos exilados pela ditadura de Pinochet, e por isso sempre procurámos um lugar no mundo, e este é um dos lugares do mundo dele”, concluiu. “Assim como escolheu Gijón para viver e morrer, a Póvoa também era um dos seus lugares de eleição sentimental.”

O presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, manifestou esta quarta-feira o desejo de que o novo espaço Luis Sepúlveda, cuja curadoria ficará a cargo do fotógrafo Daniel Mordzinski, amigo de longa data do escritor, possa estar já a funcionar em 2024.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários