Cancro da mama triplo-negativo: células manipulam proteína para manter agressividade

Equipa de cientistas do Porto descobriu “algo surpreendente e inesperado” em relação a uma proteína envolvida no cancro da mama triplo-negativo, um tipo de cancro agressivo.

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Imagem de uma célula de cancro da mama triplo-negativo contendo só a forma mutante da proteína SKOR1: a vermelho está o seu núcleo, em forma de coração, e os muitos locais de adesão da célula ao seu meio ambiente i3s

As células cancerosas "manipulam" uma proteína neuronal para "conseguirem manter o comportamento agressivo" do cancro da mama triplo-negativo – descobriram cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto.

Publicados e seleccionados para capa da revista científica Journal of Cell Science, os resultados da investigação abrem portas ao desenvolvimento de novas terapias para travar a metastização, sublinha o instituto da Universidade do Porto em comunicado.

O estudo, liderado pela investigadora Sandra Tavares, mostrou que existe uma proteína neuronal, intitulada "SKOR1", que é manipulada pelas células cancerosas para conseguirem manter o comportamento muito agressivo do cancro da mama triplo-negativo.

Durante o desenvolvimento de cancro metastático, algumas células tumorais adquirem a capacidade de migrar do tumor primário para a circulação sanguínea, deslocando-se para outros órgãos, alguns dos quais muito distantes onde iniciam o desenvolvimento metastático.

"A disseminação metastática é, aliás, a principal causa de morte provocada por cancro", salienta o comunicado do i3S, notando que, apesar desta migração das células ser do conhecimento dos especialistas, "desconhecem-se ainda os processos que desencadeiam e sustentam o potencial invasivo e metastático" dos tumores de cancro da mama triplo-negativo.

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O trabalho da equipa do Porto em destaque na capa da revista Journal of Cell Science DR

A investigadora Sandra Tavares salienta, no comunicado, que a equipa descobriu "algo surpreendente e inesperado", nomeadamente, a proteína SKOR1 que, "até hoje só tinha sido vista num contexto de desenvolvimento neuronal".

"Assim que fizemos estas primeiras observações, empenhámo-nos em perceber como é que esta proteína contribui para cada uma das características mais marcantes deste tipo de cancro", refere a investigadora.

Usando edição genética, modelos de laboratório e modelos animais, a equipa de investigadores começou a estudar o papel desta proteína e perceber que "as células cancerígenas de cancro da mama triplo-negativo activam um mecanismo apenas observado num grupo de células durante o desenvolvimento neuronal".

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A investigadora Sandra Tavares I3S

"Descobrimos que as células do cancro da mama triplo-negativo usam este mecanismo para "alimentar" o seu comportamento agressivo, pois esta proteína promove a proliferação e a migração de células, exactamente os processos necessários para a formação de metástases", esclarece Sandra Tavares.

A equipa pretende agora "compreender" como funciona esta proteína e, consequentemente, identificar "formas de a bloquear", contribuindo com novos alvos terapêuticos para combater o cancro da mama triplo-negativo, salienta a investigadora.

Além do i3S, o trabalho contou ainda com a participação de cientistas do Centro Médico Universitário de Utrecht, na Holanda.

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