Cartas ao director

Percebo

Com as greves dos professores a decorrerem há tanto tempo, seria natural que algum repúdio por parte da sociedade em geral se tivesse já manifestado, sobretudo após alguns “convites” mais ou menos explícitos, como, por exemplo, o de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas não, o movimento contestatário continua bem vivo e pressente-se o apoio não só de pais dos alunos afectados, como de profissionais de outros sectores.

Não sou professor, militar ou polícia, nem sequer funcionário público de qualquer outra especialidade, mas entendo perfeitamente a incompreensão e a revolta que o actual estado de coisas está a gerar nos portugueses, em especial naqueles que se encontram “acorrentados” a rendimentos fixos e baixos, pelo que só razões circunstanciais me impediram de ter contribuído para o engrossamento daquela mole humana nas ruas de Lisboa. Sente-se vezes de mais que o povo serve a política e a economia, quando deveria ser o contrário. E lembro-me, com frequência, de Montenegro, faz agora oito anos, a dizer-nos: “A vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor.”

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

Definitivamente provisórios

Os milhares de docentes que andam há décadas a gastar tudo o que ganham dos seus contratos, definitivamente provisórios, são o indicador mais evidente da desvalorização a que foi relegada a educação. “Dar aulas” tornou-se uma expressão "corriqueira". Contudo, o ato educativo envolve um conjunto de ações e atitudes muito mais nobres e exigentes do que aquela suposta banalização, pelo que deve ser visto e tratado com a dignidade que merece. Os objetivos da avaliação de desempenho docente devem centrar-se na melhoria das práticas e no seu reconhecimento, e não na poupança feita à custa de controversas quotas que apenas têm contribuído para exaurir a já baixa estima dos docentes, exasperá-los e conduzi-los para uma luta sem igual. Ficar indiferente a esta força é subverter as funções que são confiadas a quem prometeu cumpri-las e esvaziar a incontornável necessidade de serviço público.

José M. Carvalho, Chaves

Assessorando-me

Uma jovem (actual, futura, talvez ex) assessora do MTSSS, especialista em agitação social, perdão, em inovação social, veio com a ideia de ocupar a Ponte 25 de Abril com barracas de campismo, ideia que, na realidade, não é nada inovadora, uma vez que já em 1994 uns quantos camionistas tiveram essa mesma ideia, só que o fizeram com ‘instrumentos’ diferentes daqueles que agora a senhora assessora propõe.

Eu, por mim, acho a ideia óptima, pois dará "festa" mediática em grande quantidade e estilo, com reportagens, entrevistas, opinião de especialistas e de populares (os populares são sempre especialistas em tudo opinar), artigos de fundo pelos mais competentes estudiosos nas matérias envolvidas – pontes, barracas de campismo, assessor/as, ocupações, etc. –, e tudo isto ocupará horas e horas de telejornais e resmas e resmas de papel e gigas de bits e bytes (e bitaites) de jornais.

E, estou seguro, os cinco milhões de portugueses (mais coisa, menos coisa) que atravessam/atravessariam a ponte (se pudessem) para ir trabalhar e voltar a casa no fim do dia exultariam de prazer e gozo pela oportunidade de umas férias forçadas e, naturalmente, por imposição do ministério onde assessora a senhora assessora, pagas.

Jorge Mónica, Parede

Isto vai de mal a pior

Quando casos insólitos e anormais ocorrem com elevada assiduidade, o povo costuma dizer que “isto vai de mal a pior”. E, de facto, é o que sabemos, vemos e constatamos todos os dias. Hoje, vamos focar dois desses casos.

O primeiro prende-se com os episódios com os caríssimos altares a construir para a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, orçados em montantes incomportáveis e desnecessários para o efeito, que deveria ser para "lavar a alma", fraternidade e alguma austeridade, tal como o Papa Francisco tem preconizado. Então, ouvimos o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, falar em milhões como se tais montantes fossem seus, e tal "parvoíce" é o auge negativo de como são geridos e gastos os dinheiros públicos.

O segundo caso prende-se com a infantilidade defendida em declarações públicas pela jovem Inês Franco Alexandre, assessora da senhora ministra do Trabalho, em querer ocupar com tendas a Ponte 25 de Abril, como protesto para que sejam resolvidos os problemas de habitação que afligem os concidadãos mais pobres que, certamente, vivem debaixo dessa e de outras pontes. Mas estes problemas não se resolvem assim, pois são sérios de mais para brincadeiras.

José Amaral, V. N. Gaia

Sugerir correcção
Comentar