Justiça belga detém mais um eurodeputado no âmbito do “Qatargate”

Marc Tarabella é suspeito de receber mais de 100 mil euros para fazer lóbi a favor do Qatar. A sua imunidade parlamentar foi levantada na semana passada — com o voto favorável do próprio.

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Marc Tarabella mudou o discurso sobre os direitos dos trabalhadores do Qatar em poucos anos YVES HERMAN/Reuters

O eurodeputado belga Marc Tarabella foi detido esta sexta-feira para interrogatório no âmbito do alegado esquema de corrupção no Parlamento Europeu conhecido como Qatargate”. Desde Dezembro que o nome do eleito socialista estava envolvido no escândalo, mas foi na semana passada que a sua imunidade parlamentar foi levantada, o que permitiu à Procuradoria Federal belga avançar para a sua inquirição.

Tarabella foi detido por volta das 6h na sua casa de Anthisnes, localidade de que é autarca, e transportado para Bruxelas. A procuradoria informou em comunicado que foram feitas buscas aos seus escritórios e num banco de Liège, onde o eurodeputado tinha um cofre pessoal.

O nome de Tarabella terá sido mencionado aos investigadores que dirigem o inquérito por Pier Antonio Panzeri, ex-eurodeputado que se julga ser o cabecilha do esquema e que, em Janeiro, aceitou colaborar com as autoridades em troca de uma sentença mais leve. O canal de televisão VRT refere que Panzeri alegou ter entregado 120 mil a 140 mil euros a Tarabella, que nega.

O eurodeputado, que foi expulso do grupo europeu Socialistas e Democratas em Janeiro e que está suspenso do Partido Socialista belga, era vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com a Península Arábica. Foi nessa qualidade que, em Novembro, a dias de começar o Mundial de futebol no Qatar, Tarabella elogiou aquele país pelos “progressos sobre os direitos dos trabalhadores” e criticou os colegas parlamentares que apenas teciam comentários negativos, o que “impediria mais progressos”.

Esse discurso contrasta grandemente, lembra a rádio e televisão belga RTBF, com o que Tarabella dizia em 2015. Nessa altura, o eurodeputado considerava que a atribuição do Mundial ao Qatar tinha sido “um sonho infelizmente transformado em pesadelo para muita gente”, “sobretudo porque já há mais de 1200 operários mortos nas obras destinadas a preparar o Mundial”. “Isso quer dizer que há mais operários mortos do que jogadores que vão jogar”, comentava então. Calcula-se hoje que o número de mortos nas obras para o Mundial seja superior a 6500.

Confrontado em Dezembro, Tarabella respondeu que não tinha “absolutamente nada a esconder” e mostrou-se disponível para responder “a todas as perguntas, se isso puder ajudar a deitar luz sobre todo este caso”. Na semana passada, o eurodeputado votou a favor do levantamento da sua imunidade e declarou-se “feliz” por isso ter acontecido.

Marc Tarabella é o segundo eurodeputado no activo a ser detido em consequência da investigação ao “Qatargate”, depois de uma das vice-presidentes do Parlamento Europeu, a grega Eva Kaili, ter sido apanhada por alegadamente receber subornos do Qatar para fazer lóbi em Bruxelas a favor daquele país. Os investigadores suspeitam de que Marrocos e Mauritânia também tenham tentado influenciar ilegalmente o trabalho parlamentar europeu.

Ao contrário de Kaili, que está em prisão preventiva desde Dezembro, ainda não é certo que Tarabella venha a permanecer detido. O seu advogado disse ao Politico que o eurodeputado ainda não foi presente a um juiz – e será este a decidir se o eleito belga aguarda pelo desenrolar do inquérito em liberdade ou não.

Além destas três pessoas, a polícia belga deteve igualmente o companheiro de Kaili e antigo assistente de Panzeri, Francesco Giorgi, e o director da ONG No Peace Without Justice, Niccolo Figà-Tolamanca, que foi libertado da prisão na semana passada.

Na votação da semana passada, os eurodeputados decidiram também levantar a imunidade a Andrea Cozzolino, um eleito italiano também do grupo socialista e igualmente suspeito de integrar o esquema criminoso. Até ao momento, ainda não foi ouvido pelas autoridades.

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