Empresa norte-americana denuncia uso de deepfakes em propaganda pró–China

Os “apresentadores”, que “trabalham” para um telejornal fictício chamado Wolf News, foram usados em vídeos de propaganda política.

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Os “apresentadores”, que “trabalham” para um telejornal fictício chamado Wolf News, são, na verdade, produtos de inteligência artificial themotioncloud/Getty Images

Apresentadores de televisão gerados por inteligência artificial, mas com aparência natural, foram usados pela “primeira vez” em vídeos de propaganda política a defender posições pró–China, denunciou uma empresa de pesquisa dos Estados Unidos.

Os “apresentadores”, que “trabalham” para um telejornal fictício chamado Wolf News, são, na verdade, produtos de inteligência artificial que surgiram nas redes sociais aparentemente para promover os interesses do Partido Comunista Chinês, de acordo com a empresa norte-americana Graphika.

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Estes “apresentadores” são gerados por inteligência artificial Graphika

“É a primeira vez que vimos uma operação do Estado a usar vídeos de inteligência artificial, com pessoas fictícias, para criar conteúdo político enganoso", disse Jack Stubbs, vice-presidente da Graphika, citado pela agência France–Presse (AFP).

Designado em inglês como deepfake, esta técnica de produção de conteúdos multimédia falsos, mas de aparência autêntica, resulta da manipulação informática de sons ou imagens digitais preexistentes. Através de técnicas de inteligência artificial, consegue ser tão bem feito, que, a olho nu, é muitas vezes impossível reparar que se trata de conteúdo artificial.

Um dos “apresentadores”, com cabelo escuro perfeitamente penteado e a barba por fazer, critica a inacção dos Estados Unidos perante a violência das armas que assola o país. Noutro vídeo, uma “apresentadora” enaltece o papel da China no cenário global, durante uma cimeira internacional.

As alegações da Graphika foram publicadas semanas depois de o Governo chinês ter anunciado novos regulamentos para os deepfakes. Esta técnica acarreta “perigos para a segurança nacional e para a estabilidade social”, se não for regulada, apontou, em Dezembro, a Administração do Ciberespaço da China.

Os regulamentos exigem agora que as empresas que oferecem estes serviços de falsificação de conteúdo na China obtenham a identidade real dos utilizadores.

A Graphika apontou que os dois apresentadores do Wolf News foram certamente criados graças à tecnologia fornecida pela empresa londrina Synthesia.

Esta empresa vende programas informáticos que criam avatares “baseados em vídeos com actores reais”, segundo o seu portal. Os clientes precisam apenas de fornecer um roteiro, que é lido por um dos atores digitais feitos com as ferramentas da Synthesia.

Estes atores são “gémeos digitais”, baseados na aparência de atores contratados, e podem ser manipulados para falar em 120 idiomas e sotaques, segundo a Synthesia, que oferece mais de 85 personagens para escolher, com diferentes géneros, idades, etnias, tons de voz e vestuário.

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