Porto tem um plano que vai usar drones e licenças de abate para eliminar gaivotas

O plano para controlar a população de gaivotas na Área Metropolitana do Porto pode vir a incluir multas aos cidadãos que alimentem os animais. Abate será para casos extremos de “gaivotas psicopatas”.

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Há cada vez mais gaivotas no espaço urbano da Área Metropolitana do Porto Paulo Pimenta

O Plano de Acção para o Controlo da População de Gaivotas na costa da Área Metropolitana do Porto (AMP) prevê a utilização de drones para inviabilizar ovos nos ninhos mais inacessíveis, equacionando também penalizações para quem alimentar as aves.

De acordo com o documento, consultado esta terça-feira pela Lusa, o plano abrange quatro pilares, um dos quais "impedir e minimizar a reprodução em espaço urbano da AMP", em que o plano propõe, "como método de controlo da nidificação da gaivota-de-patas-amarelas, a aplicação de óleo em ovos através de utilização de drones adaptados".

A solução é proposta "dada a dificuldade de acesso a muitos dos telhados das cidades do estudo, e dada a eficiência demonstrada na inviabilização dos ovos através da aplicação de óleo impermeabilizante".

Em causa estão os municípios de Vila Nova de Gaia, Porto, Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim, que participaram no trabalho desenvolvido em 2021 e 2022 pelo consórcio Floradata e a Wedotech, com coordenação geral de Paulo Alves.

"Este método, para além de contornar as questões de acesso em segurança aos ninhos, reduzindo o risco de acidentes, reduz o risco da realização de posturas de substituição por parte das gaivotas (como demonstrado no presente estudo)", pode ler-se no documento.

Parafina ou óleo nos ovos para os "neutralizar"

A experiência inspira-se na seguida em Nice (França) e consiste no "uso de parafina ou óleo alimentar nos ovos, para criar uma camada que impeça as trocas gasosas entre o embrião e o exterior", inviabilizando-o, num processo que leva a que, "de uma forma geral, as aves não façam uma postura de substituição" e continuem a proteger o ovo neutralizado.

Já em telhados de fácil acesso, "outros métodos de controlo da nidificação", como a remoção de ninhos ou retirada de ovos, "poderão ser investigados em larga escala, tendo, no entanto, que ser repetidos a cada duas semanas, durante os meses de Abril e Maio", para evitar a substituição pelas aves.

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Campanha de sensibilização inclui uma aplicação, já anunciada em Novembro Paulo Pimenta

O plano de acção estabelece que "cada município deverá desenvolver um programa de controlo de nidificação" da gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis) a espécie mais frequente, "devendo este programa ocorrer durante a época de reprodução (entre início de Abril e fim de Maio/início de Junho)".

O programa "pode incluir a remoção de ninhos, e/ou remoção e/ou inviabilização de ovos", deixando-os no ninho, permitindo uma "comparação de facilidade de implementação de cada método e comparação de resultados no curto e médio prazo".

Licenças de abate para "gaivotas psicopatas"

Os três restantes pilares do plano são a "obtenção de uma licença geral do ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e Florestas] para controlo das gaivotas urbanas", "tornar a AMP menos atraente para as gaivotas" e "assegurar a continuidade do plano de acção e revisão periódica do mesmo".

Para actuação em casos extremos, "os municípios devem obter do ICNF uma licença excepcional para captura e abate de gaivotas urbanas em situações de extrema agressividade", como gaivotas "psicopatas", com comportamentos agressivos e repetitivos.

O plano de acção defende ainda a preparação ou revisão de manuais de boas práticas para os principais locais de alimentação das gaivotas (como lotas, restaurantes, barcos ou aterros), uma correcta gestão de resíduos orgânicos e de não alimentação dos animais, através da sensibilização da população.

Em aberto fica a possibilidade de implementar, "eventualmente, penalidades" para quem alimentar gaivotas. "Isto obriga a regras claras, consistência na actuação e transparência nos processos. A prioridade deverá ser em casos de alimentação em habitação (janelas, varandas, terraços), e em casos de alimentação continuada na via pública (recipientes com comida para gatos ferais e/ou gaivotas, por exemplo)", pode ler-se no documento.

Porto albergava 61% dos ninhos em 2021

O Porto albergava 61% dos 794 ninhos de gaivotas dos municípios costeiros da área metropolitana, sobretudo no centro histórico, segundo dados de 2021 do Plano de Acção para o Controlo da População de Gaivotas no território.

"Do total de ninhos e/ou registos de comportamento reprodutor identificados na área de estudo, a cidade do Porto alberga cerca de 61,1%, Póvoa de Varzim 14,9%, Matosinhos 11,8%, Vila Nova de Gaia 9,7% e Vila do Conde 2,4%", pode ler-se no Plano de Acção para o Controlo da População de Gaivotas nos Municípios Costeiros da Área Metropolitana do Porto (AMP).

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Está ainda prevista uma campanha pública com as frases "Deixe as gaivotas em paz! Não as alimente" Paulo Pimenta

No âmbito do trabalho realizado entre 2021 e 2022, "na época de nidificação de 2021 foram identificados 794 ninhos e/ou registos de comportamento reprodutor de Larus michahellis", a gaivota-de-patas-amarelas, a mais comum na região.

"Este número está subestimado, uma vez que nem toda a área das cidades em estudo foi pesquisada, e os métodos de amostragem não permitem a identificação de 100% de ninhos e comportamentos de nidificação na área prospectada", alertam os autores do estudo encomendado pela AMP, o consórcio Floradata e a Wedotech, com coordenação geral de Paulo Alves.

Por zonas de cidades, "as áreas de maior concentração de ninhos são a zona da Ribeira, Sé e Vitória", no Porto, mas também "são relevantes outros locais", como a Beira-Rio (Vila Nova de Gaia), o centro de Matosinhos e Leça da Palmeira, ou o centro da cidade da Póvoa de Varzim, segundo o documento.

"Deixe as gaivotas em paz! Não as alimente"

Na AMP, "a grande maioria dos ninhos situa-se em edifícios particulares (cerca de 90%), maioritariamente em telhados tradicionais (85,5%), o que pode dificultar intervenções físicas nos locais de nidificação".

Os locais de maiores concentrações de gaivotas "foram claramente os locais Gaia-Cabedelo, Matosinhos-Praia e Matosinhos-Docapesca", sendo os dois primeiros "provavelmente associados a períodos de repouso" e o terceiro "terá provavelmente uma grande importância como local de alimentação".

"Os locais Porto-Ribeira e Vila do Conde-Caxinas foram os únicos que apresentaram maior abundância de gaivotas no período reprodutor, comparativamente com o período de migração pós-nupcial/invernada", refere ainda o estudo. A maior abundância no período poderá dever-se não só à proximidade de locais de nidificação, mas também, "possivelmente, por serem locais de alguma concentração de turistas (mais frequentes no período de Maio a Agosto) e, consequentemente, um período de maior disponibilidade de alimento de origem antropogénica".

"Verificou-se claramente um aumento da abundância de gaivotas no período de nidificação nos locais Porto-Ribeira e Gaia-Afurada, em 2021, comparativamente com 2010", num estudo do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR).

Face à presença dos animais no meio urbano, o trabalho encomendado pela AMP inclui também várias campanhas de sensibilização, incluindo um site e uma aplicação de sinalização de ninhos e gaivotas chamada Gaivotas à Vista. O lançamento da app já tinha sido revelada pelo vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, em Novembro de 2021.

Está ainda prevista uma campanha pública com as frases "Deixe as gaivotas em paz! Não as alimente", "As gaivotas não são animais domésticos! Não as alimente", "As gaivotas são um risco para a saúde pública! Não as alimente", "Não alimente animais selvagens nem deixe comida na via pública" ou "Acondicione bem o lixo, coloque-o no contentor e feche o contentor".

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