A pandemia secreta de Ishmael Reed

Um dos aspectos mais interessantes de Mumbo Jumbo é a possibilidade que indica para reformular o debate sobre, por exemplo, “apropriação cultural”.

Na manhã de 14 de Julho de 1518 (uma quarta-feira, segundo o antigo calendário Juliano), uma mulher alemã saiu de casa em Estrasburgo e começou a sacudir o corpo. Frau Troffea foi percorrendo as ruas medievais numa gincana de espasmos e safanões, perante a consternação do marido e dos transeuntes, que descreveram generosamente o que estavam a ver como “dança”. Troffea continuou até ao pôr-do-sol, desfaleceu de exaustão, foi transportada para casa, dormiu umas horas, e no dia seguinte recomeçou o seu baile solitário. O transe durou seis dias, ao fim dos quais dezenas de habitantes da cidade sentiram a mesma urgência inexplicável. Em Agosto, esta prequela de Footloose na Alsácia já se tinha multiplicado: centenas de corpos aos solavancos, de calcanhares a sangrar, de sapatos ensopados, de danças frenéticas até ao desmaio.

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