Homem suspeito de rapto fica em liberdade e proibido de contactar jovem de Leiria

O juiz teve em conta o facto de a jovem ter dito que não houve qualquer contacto sexual com o homem, que não foi maltratada fisicamente e que estava de livre vontade em Évora.

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O suspeito foi ouvido nesta quinta-feira no Tribunal de Leiria Nuno Ferreira Santos

O empregado fabril de 48 anos, suspeito de ter raptado uma menor na região de Leiria, em Maio de 2022, saiu nesta quinta-feira em liberdade, depois de ter sido ouvido por um juiz de instrução criminal no Tribunal de Leiria. Fica sujeito ao termo de identidade e residência (TIR) e proibido de contactar com a adolescente e ainda proibido de se deslocar ou permanecer no concelho de Leiria.

O juiz teve em conta o facto de a jovem ter dito que não houve qualquer contacto sexual com o homem, que não foi maltratada fisicamente e que estava de livre vontade em Évora. Em casa do suspeito dormia num quarto no piso superior. Quando acordava, dirigia-se ao quarto do homem onde tinha à sua disposição equipamentos para jogar online e ver filmes.

Terá sido esta a sua rotina durante os meses em que esteve longe de casa, sem regras e a fazer o que mais gostava: jogar. O mesmo vício que a levou a faltar às aulas. A jovem estava sinalizada pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo (CPCJP) por causa do absentismo escolar e terá confidenciado a algumas amigas a intenção de fugir de casa devido à pressão que sentia pelo facto de os pais tentarem limitar-lhe a liberdade.

Segundo fonte judicial, neste momento, "a investigação aguarda os resultados de perícias que estão a ser feitas a equipamentos electrónicos, nomeadamente ao telemóvel do suspeito, e à própria jovem, quer em termos físicos e psicológicos, para se perceber se houve ou não um consentimento livre, sério e esclarecido por parte da jovem para ficar em Évora com o homem". Serão os resultados destas perícias que vão ditar se o homem será ou não acusado de algum crime pelo Ministério Público.

O homem foi detido na segunda-feira pela Polícia Judiciária (PJ), em Évora, onde foi encontrada a adolescente agora com 17 anos, após um mandado de detenção emitido pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Leiria.

Segundo a PJ, a jovem estava na residência do suspeito, em Évora, onde, “a coberto de uma suposta relação amorosa”, foi mantida pelo empregado fabril “em completo isolamento social durante oito meses, aproveitando-se da sua persistente e recorrente dependência de jogo online, imaturidade e personalidade frágil”.

A jovem desapareceu a 30 de Maio do ano passado, da localidade de Cruz da Areia, em Leiria, onde residia com os pais. Com 16 anos (tem agora 17), a rapariga saiu de casa e parou no supermercado onde a mãe trabalhava para recolher o lanche que, supostamente, levaria para a escola. Só que a menina já não chegou ao estabelecimento de ensino e, até agora, essa tinha sido a última vez que fora vista pela família.

Suspeito vivia com a mãe

Ao que o PÚBLICO apurou, o homem tinha uma companheira e dois filhos, mas actualmente estava a viver com a mãe idosa e a adolescente de Leiria, que conheceu através dos jogos online quando esta ainda teria 14 anos.

A detenção do suspeito decorreu sem incidentes. Os inspectores abordaram o homem na rua e foi o próprio que abriu a porta da casa onde estava a jovem. Segundo fonte da PJ, a adolescente estava calma, bem tratada, a jogar num dos quartos da casa onde, ao que tudo indica, teria liberdade de movimentos. Não saía à rua porque teria receio de ser reconhecida, e quando alguém ia lá a casa escondia-se no sótão.

A PJ rastreou todos os movimentos da jovem nos chats de jogos e através dessa análise foi possível encontrar um nome de utilizador que falava com ela com frequência.

A análise à facturação detalhada da jovem também ajudou a direccionar a investigação que acabou por ser dificultada pelo facto de terem sido indeferidos os pedidos de autorização para aceder aos dados de localização do telemóvel da jovem.

Em Outubro de 2022, quando o Ministério Público recorreu para o Tribunal da Relação de Coimbra para reverter a decisão da juíza de instrução, a investigação já tinha o nome completo do suspeito.

A investigação foi desenvolvida pela directoria do Centro da PJ, em colaboração com a Unidade Local de Investigação Criminal da PJ de Évora.

A mãe do suspeito, em entrevista à CMTV, disse que a jovem não saía de casa porque não queria, e que lhe chegou a dizer que devia telefonar aos pais, mas que esta recusou. Também disse que a adolescente não dormia com o seu filho. "Nada disso. Eles apenas jogavam. Eram jogadores", sublinhou.

Já a mãe da jovem, numa entrevista à SIC, disse que se sente revoltada com a decisão do Tribunal de Leiria em manter o suspeito do rapto em liberdade e tem "muito receio" que volte a contactar a filha. Na sua opinião este caso devia servir de exemplo "para que homens com esta idade passassem a assumir responsabilidades".

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