Republicanos afastam democrata Ilhan Omar da Comissão de Negócios Estrangeiros

Congressista do Partido Democrata foi acusada de proferir declarações anti-semitas. Colegas de partido dizem que se trata de uma vingança pela expulsão da republicana Marjorie Taylor Greene em 2021.

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Ilhan Omar (à direita) e Rashida Tlaib são as primeiras mulheres muçulmanas eleitas para o Congresso dos EUA EPA/JIM LO SCALZO

A maioria do Partido Republicano na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos afastou a congressista Ilhan Omar, do Partido Democrata, do seu lugar na Comissão de Negócios Estrangeiros. Omar — uma das primeiras mulheres muçulmanas a ser eleita para o Congresso norte-americano — foi acusada, pelos republicanos, de proferir "declarações anti-semitas e antiamericanas" ao criticar o apoio dos EUA ao Governo de Israel.

Eleita para a Câmara dos Representantes em 2018, Omar, de 40 anos, nasceu na Somália e chegou aos EUA quando tinha 13 anos, com o estatuto de refugiada.

Juntamente com congressistas como Alexandria Ocasio-Cortez, Ayanna Pressley e a também muçulmana Rashida Tlaib, Omar é um dos rostos da nova ala progressista do Partido Democrata, e as suas posições políticas têm-lhe valido constantes ameaças de morte — suficientemente credíveis para ter direito a protecção permanente da polícia do Capitólio.

Em Fevereiro de 2019, um mês depois de ter tomado posse como congressista, Omar disse no Twitter que o apoio dos políticos norte-americanos a Israel "resume-se aos Benjamins", numa referência à figura de Benjamin Franklin nas notas de 100 dólares.

A declaração foi imediatamente criticada pelo Partido Republicano e pelo Partido Democrata, com a então líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a exigir um pedido de desculpas a Omar pelo uso de tropos anti-semitas — no caso, uma referência ao mito de que os judeus são gananciosos. Na altura, Omar pediu desculpa e disse que não teve a intenção de ofender os judeus.

No Verão de 2021, a congressista voltou a ser repreendida pela liderança do seu partido, acusada de comparar os EUA e Israel a organizações terroristas. "Temos assistido a atrocidades impensáveis cometidas pelos EUA, Hamas, Israel, Afeganistão e os taliban", disse Omar na altura, numa mensagem publicada no Twitter em que exigiu "o mesmo nível de responsabilização e justiça para todas as vítimas de crimes contra a humanidade".

Vingança?

A expulsão de Omar da Comissão de Negócios Estrangeiros é uma antiga promessa do novo líder da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, e é vista pelo Partido Democrata como uma vingança pelo afastamento dos congressistas republicanos Paul Gosar e Marjorie Taylor Greene das suas comissões, em 2021.

Greene, uma figura em ascensão no movimento ultraconservador dos EUA, foi afastada por ter apelado à morte de políticos do Partido Democrata nos anos que antecederam a sua eleição como congressista; e Paul Gosar, outra face da extrema-direita norte-americana no Congresso dos EUA, foi expulso por ter publicado um vídeo alterado em que surgia a matar Ocasio-Cortez.

Numa tentativa de desmentir a acusação de vingança, McCarthy tem dito que Omar só seria expulsa da Comissão de Negócios Estrangeiros, onde tem acesso a informações confidenciais sobre política externa. Tanto Greene como Gosar foram expulsos pela maioria do Partido Democrata de todas as comissões que integravam na altura.

A expulsão de Omar é uma nova demonstração de poder de McCarthy como líder da Câmara dos Representantes, depois de alguns congressistas republicanos terem manifestado dúvidas sobre a medida.

Com apenas quatro lugares a mais do que o Partido Democrata, a liderança republicana tem de manter um pulso firme na sua bancada se quiser ver aprovadas as suas propostas, o que aconteceu no caso de Omar.

Pelo seu lado, o Partido Democrata acusa McCarthy de hipocrisia ao promover a expulsão de Omar da Comissão de Negócios Estrangeiros, depois de já ter negado o acesso de outros dois democratas — Adam Schiff e Eric Swalwell — à Comissão de Serviços de Informação.

Ao mesmo tempo, McCarthy permitiu o regresso de Marjorie Taylor Greene e de Paul Gosar às comissões de onde foram expulsos pela maioria democrata em 2021, e nomeou para duas outras comissões o recém-eleito George Santos, um congressista republicano que ficcionou a sua vida pessoal e política e foi acusado de ter cometido um crime de burla no Brasil.

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