Colisões de pássaros com edifícios matam mais de mil milhões de aves por ano. Para evitar estes embates, muitas pessoas colam ao vidro filmes ou adesivos em forma de aves. O esforço é nobre, mas só tem resultado se a película for aplicada à parte exterior da janela, alerta um estudo publicado esta quinta-feira na revista científica PeerJ.
“Se deseja reduzir as colisões entre pássaros e janelas, certifique-se que aplica os adesivos ou as películas à superfície externa das janelas. Colocar estes dispositivos na parte interna não adianta, infelizmente”, explicou ao PÚBLICO John Swaddle, co-autor do estudo e director do Instituto para a Conversação Integrativa da Universidade William & Mary, nos Estados Unidos.
O investigador explica que os autocolantes, quando aplicados do lado de dentro da janela, não são visíveis para os pássaros. “O reflexo e o brilho do próprio vidro ofuscam os adesivos e, portanto, não são suficientemente perceptíveis para os pássaros”, esclarece John Swaddle.
O problema é que a aplicação destes filmes em janelas muito altas – do primeiro andar em diante – exige não só uma logística difícil, mas também um investimento financeiro significativo. Isso faz com que grande parte dos utilizadores opte por colocar películas na parte interior do vidro, uma zona de acesso e manutenção mais simples.
“Colocar adesivos e filmes na superfície externa geralmente dá mais trabalho, especialmente se a janela estiver muito acima do solo. Nós mostramos no nosso estudo que esse esforço adicional é necessário”, refere o autor principal do estudo experimental, o primeiro a comparar a eficácia de duas marcas de película quando aplicadas na superfície interna ou externa de janelas com vidros duplos.
Testes com tentilhões-zebra
Para testar os autocolantes, os cientistas realizaram testes controlados com tentilhões-zebra numa arena fechada, mas com iluminação natural. A escolha da espécie foi condicionada pela familiaridade com o manuseio humano: era necessário trabalhar com animais habituados ao contacto com pessoas, para que não ficassem muito stressados ao voar no aviário.
“Um dos maiores desafios de testar colisões de pássaros contra janelas é recriar uma situação natural para os pássaros e, ao mesmo tempo, ter controlo experimental da situação – para que tenhamos certeza de que as mudanças que vemos, quando aplicamos uma película na janela, realmente representam a redução de colisões”, afirma ao PÚBLICO.
As aves eram soltas numa câmara escura com ligação à arena de voo, um espaço onde janelas foram instaladas instaladas para reproduzir a fachada de um prédio. A iluminação consistia em “luz natural do dia na superfície externa das janelas e iluminação artificial, típica do vemos em casas e escritórios, no interior da janela”, refere o autor principal do artigo, numa resposta enviada por e-mail.
Para que nenhum pássaro saísse magoado durante o estudo, uma fina rede quase invisível foi estendida em frente às janelas. Assim, as aves eram retidas pela malha fina antes que qualquer colisão pudesse acontecer. “O uso destes dispositivos para capturar pássaros é uma prática padrão na ornitologia de campo, pois os filamentos são tão finos que os pássaros têm dificuldade em vê-los”, explica o investigador.
Os cientistas concluíram que os dois tipos de película testados eram eficazes na prevenção de colisões se aplicados na parte externa, podendo evitar embates em 39 a 47% dos casos. Quando aplicados internamente, os filmes não tinham qualquer efeito protector.
“Imaginávamos que os filmes seriam mais eficazes na superfície externa em comparação com a interna, mas esperávamos ver algum benefício na colocação nas superfícies internas. Perceber que não há nenhum benefício em colocá-los na superfície interna foi um pouco surpreendente para nós. E mostra que o local onde os filmes são colocados é crucial para sua eficácia”, afirma John Swaddle.
Um dos elementos novos do estudo, segundo os autores, é o facto de ter sido quantificado o comportamento de desvio do obstáculo (uma vez que este era identificado durante o voo). Os estudos de colisões entre pássaros e janelas tendem a concentrar-se nos episódios de colisão, ignorando as tentativas das aves de esquivar-se da janela.
“Isso é apenas parte da história. Também temos de entender como, e por que razão, os pássaros evitam as janelas, uma vez que queremos promover estes comportamentos de mudança de rota. Esperamos que o nosso estudo inspire outros cientistas a estudar como podemos promover esta reacção nas aves”, diz John Swaddle.