Suspeito de raptar adolescente já foi presente a um juiz, mas só será ouvido amanhã

Interrogatório foi adiado para quinta-feira devido à greve dos oficiais de Justiça. Jovem esteve desaparecida oito meses tendo sido resgatada pela PJ na segunda-feira, em Évora.

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Suspeito foi presente a juiz no Tribunal de Leiria Nuno Ferreira Santos

O homem de 48 anos suspeito de ter raptado uma menor, na região de Leiria, em Maio de 2022, foi presente esta quarta-feira a um juiz no Tribunal de Leiria que procedeu à sua identificação. Como está a decorrer uma greve dos oficiais de Justiça, que tem lugar todas as tardes, durante os dias úteis e por tempo indeterminado, o interrogatório foi adiado para amanhã às 11h00, apurou o PÚBLICO junto do próprio tribunal.

O homem foi detido na segunda-feira pela Polícia Judiciária, em Évora, onde foi encontrada a adolescente agora com 17 anos, após um mandado de detenção emitido pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Leiria.

Segundo o comunicado da PJ, a jovem, que tinha sido dada como desaparecida pela família no final de Maio do ano passado, estava na residência do suspeito, em Évora, onde, “a coberto de uma suposta relação amorosa”, foi mantida pelo suspeito “em completo isolamento social durante oito meses, aproveitando-se da sua persistente e recorrente dependência de jogo online, imaturidade e personalidade frágil”.

A jovem agora resgatada desapareceu a 30 de Maio do ano passado, da localidade de Cruz da Areia, em Leiria, onde residia com os pais. Com 16 anos (tem agora 17), a rapariga saiu de casa e parou no supermercado onde a mãe trabalhava para recolher o lanche que, supostamente, levaria para a escola. Só que a menina já não chegou ao estabelecimento de ensino e, até agora, essa tinha sido a última vez que fora vista pela família.

Em entrevista a um programa da SIC, dois meses após o desaparecimento, a mãe da menina dizia acreditar que a filha tinha fugido, já que levou uma série de pertences com ela, e que poderia ter sido aliciada por alguém com quem teria tido contacto através dos jogos online que lhe ocupavam grande parte do tempo.

Investigação “complexa”

Em conferência de imprensa, na tarde de terça-feira, o director da PJ do Centro, Jorge Leitão, disse que a investigação não está encerrada e que foi “complexa”, até se encontrar a linha de investigação certa que permitiu descobrir a adolescente. “Ela terá levado muito poucos elementos, roupa, consola, tablet, telemóvel, e a partir do seu desaparecimento tudo isto emudeceu, nomeadamente, deixou de haver qualquer comunicação com aquele telemóvel”, precisou o responsável da PJ, a partir de Coimbra, ouvido pela RTP.

Jorge Leitão indicou ainda que não há indícios que a jovem fosse obrigada a ficar fechada na casa onde foi descoberta, embora a informação recolhida durante a investigação indique que, “em regra, [ela] não saía de casa, normalmente estava confinada [ali]”. O homem agora detido, acrescentou ainda, não tem antecedentes criminais e era uma pessoa “devidamente integrada e estruturada”.

Ao que o PÚBLICO apurou, o homem tinha uma companheira e dois filhos, mas actualmente estava a viver com a mãe idosa e a adolescente de Leiria, que conheceu através dos jogos online quando esta ainda teria 14 anos.

A detenção do suspeito decorreu sem incidentes. Os inspectores abordaram o homem na rua e foi o próprio que abriu a porta da casa onde estava a jovem. Segundo fonte da PJ, a adolescente estava calma, bem tratada, a jogar num dos quartos da casa onde, ao que tudo indica, teria liberdade de movimentos. Não saía à rua porque teria receio de ser reconhecida e quando alguém ia lá a casa escondia-se no sótão. A jovem também estava sinalizada pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo devido ao absentismo escolar. Seria o vício pelos jogos online que a levava a faltar às aulas.

A PJ rastreou todos os movimentos da jovem nos chats de jogos e através dessa análise foi possível encontrar um nome de utilizador que falava com ela com frequência.

A análise à facturação detalhada da jovem também ajudou a direccionar a investigação que acabou por ser dificultada pelo facto de terem sido indeferidos os pedidos de autorização para aceder aos dados de localização do telemóvel da jovem.

Em Outubro de 2022, quando o Ministério Público recorre para o Tribunal da Relação de Coimbra para reverter a decisão da juíza de instrução, a investigação já tinha o nome completo do suspeito.

A investigação foi desenvolvida pela directoria do Centro da PJ, em colaboração com a Unidade Local de Investigação Criminal da PJ de Évora. A menor foi entregue à família.

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