Com motivação, não se habituem

A verdade é que somos a geração mais bem preparada de sempre, mas parece que estamos sempre para trás. A grande maioria dos licenciados não arranja emprego com condições decentes na sua área.

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Universidade Nuno Ferreira Santos

A motivação é aquilo que nos move para atingir os nossos objectivos, é aquela sensação que temos quando realizamos algo, mas não é suficiente, é não nos habituarmos. Ao longo deste último ano a expressão “habituem-se” tem sido bastantes vezes utilizada no discurso mediático ou político, seja para nos habituarmos à maioria absoluta, às condições precárias dos jovens, estagnação económica e social de há quase duas décadas.

A verdade é que constantemente ouvimos discursos que prometem melhorias, avanços, melhores salários, melhores políticas de habitação, mas que depois na prática se mostram vazios e sem substância.

A verdade é que somos a geração mais bem preparada de sempre, mas parece que estamos sempre para trás. A grande maioria dos licenciados não arranja emprego com condições decentes na sua área, porque, sejamos francos, um salário líquido de mil euros para os preços elevadíssimos da habitação mal chega para pagar a casa. É é uma das razões para os jovens portugueses serem dos últimos do mundo a sair de casa dos pais.

Este ano candidataram-se mais de 60 mil alunos ao ensino superior, alunos que tinham a motivação para serem melhores, em busca de um bom emprego, de uma boa vida. No entanto, 10 mil jovens viram as suas esperanças deitadas por água abaixo. Muitas vezes as diferenças que limitaram a entrada foram de uma ou duas décimas, porque um aluno dedicou também parte do seu secundário a outras actividades como a música, o desporto, por exemplo. O facto é que os alunos são um número, uma média, que sem ela não temos acesso à universidade, seja ela pública ou privada.

Em Portugal, o único critério é as notas, o que deixa de fora muitos alunos. Por exemplo, nos EUA, os alunos, para conseguir ingressar na universidade, têm de ter um currículo social, ou seja, voluntariado, desporto, actividades extracurriculares, algo que os distinga para além das suas notas. Apesar de terem um peso acentuado, nestes casos ter 4.0 GPA (equivalente a 20 valores) não é suficiente para entrar nas melhores faculdades. Os alunos são mais do que números, são pessoas com actividades, que merecem ser reconhecidos por aquelas que praticam.

Diversos são os estudos que mostram que os alunos em situações precárias têm mais dificuldades na escola. O direito constitucionalmente garantido ao ensino (Artº 74) prevê que todos sem excepção tenham acesso, gratuito e de qualidade ao ensino. Vemos hoje que esse direito não é universal. Não o é, pois, há escolas sem condições ou alunos sem professores. Ainda este mês de Janeiro saiu a notícia que os colégios privados estão lotados para o próximo ano lectivo. Mas não são todas as famílias que têm a possibilidade de despender por mês 300 ou 400 euros (por vezes mais) para colocar os seus filhos nessas instituições. O ensino tem de ser melhorado, para todos sem excepção, permitir que os pais escolham onde querem por os filhos, organizar e investir na escola pública, porque nos moldes que ela existe actualmente fará com que o elevador social continue estagnado.

De tudo o que os jovens podem ser apontados como falhas, a falta de motivação não é culpa nossa. A falta de motivação por uma vida melhor, por melhores salários, por melhor habitação, por uma vida melhor, a culpa não é nossa. Temos de nos interessar, temos de ser mais vocais nas nossas preocupações.

Concluindo, ignorando as divergências políticas, sendo eu liberal, nós somos o futuro deste país, um futuro que se encontra sub-representado na Assembleia da República, nos partidos ou nas eleições, muitos de nós não votam porque não se sentem representados ou porque perderam o interesse (se alguma vez o tiveram). Por isso, digo: Não, não se habituem.

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