Como vê a igreja este fausto?

Jornadas Mundiais da Juventude: a Igreja não é sinónimo de promoção da violência moral, propaganda de gastos, justificações inaceitáveis, sobretudo quando pessoas sem abrigo dormem na rua

O anúncio do local das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) foi feito há mais de um ano, mas em nada enaltece os princípios basilares da igreja: pão e oração. Se a doutrina bíblica promove a comunhão, partir do pão e oração, não se compreende o espalhafato de um chefe de Estado a justificar o injustificável.

Quando o frio aperta, lá vai ele, de capela em capela, visitar os abrigos dos pobrezinhos, esquecendo-se, logo a seguir, que eles continuam na rua quando o calor desperta. Viva a primavera. Vivam as sondagens de opinião. Os cães e os gatos vivem com essas pessoas, e na verdade, nunca abandonam os seus fiéis amigos.

Igual problema se vive na autarquia. É preciso um “xitex” na forma como se comunica, na forma como se (in)justifica, uma quantia avultada de massa, que todos sabemos vai derreter os cofres como manteiga ao sol das JMJ. Talvez fosse uma ideia lembrar que os professores dos filhos dos portugueses, essa classe que se manifesta, merece ser considerada, não merecem sofrer, seja ao frio, seja ao calor. E essas fortunas deveriam ser canalizadas para fins tão nobres e há décadas esquecidos. Eles não precisam que as carreiras sejam revistas, nem que sejam descongeladas — para quê? Mas essa fatura o primeiro-ministro e o seu governo pagarão. Tudo numa questão de meses.

Deveria ser este o caminho da dignidade da pessoa humana, em que os demais princípios da doutrina social da igreja têm o seu fundamento: o do bem comum, o da subsidiariedade e o da solidariedade. Onde vemos aqui solidariedade? Talvez se tente compreender nas “guerras de alecrim e manjerona” no caso do presidente Moedas com o vereador Sá Fernandes.

Atração ao país de jovens, sim! Mas não seria mais útil usar o dinheiro dos portugueses, em fins e princípios que — nós cristãos — defendemos e que são os de solidariedade, como, por exemplo, o pão? Mas Carlos Moedas considera que podemos ser o centro ao preço de ouro e de suor. Não faz mal, o povo paga e cala!

Juntam-se todos nas habituais feiras de vaidade, a ministra dos assuntos parlamentares, o ex-deputados do defunto CDS, o autarca e a sua sombra gigante que tanto sorri e as secantes selfies que até os jovens já estão fartos de ver.

Acordem senhores: este é o país dos pobrezinhos, que manda os jovens embora, porque o Estado o que tem para lhes oferecer são carreiras como as dos professores, investigação dominantemente em mendicidade eterna, sem contratos e carreiras; o acumular de subsídios falsos de empregabilidade para tapar as taxas de desemprego de 6,6% (2021). Isso é cristão. Isso é mesmo solidário. E o santo padre ficará certamente contente, sobretudo sendo ele natural de um país pobre, onde a droga consome a juventude, mas que em Portugal o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências​ peneira a verdade. Isso é comunhão?

A fé e a mobilização de jovens para a igreja e para a doutrina social devem estar associadas de forma evidente e lúcida aos seus princípios e não aos movimentos de vaidade de políticos que ostentam a bandeira da igreja para se promoverem — envelhecida mente — quando o movimento é jovem. Conhecem os portugueses a criadora do logotipo que está associado às jornadas?

É simples e foi oferecido. Como vê a igreja este fausto? Como podemos defender o papel da igreja na caridade quando vemos esbanjamento de valores necessários aos mundos a que não pertencem os organizadores: o dos pobres? Fazer a promoção do país, num evento gigante, não passa por sorver o cofre de um país pobre e as receitas que deveriam ser aplicadas nesse desiderato: gerar e contribuir para o aumento das condições dos desfavorecidos, dos professores, dos enfermeiros, dos pobres portugueses, na sua maioria, jovens?

Acreditemos: o Papa, entrevistado duas vezes pelo escritor e jornalista Fréderic Martell, talvez não dê bênção ao fausto e ostentação de um armário milionário que viola os seus princípios, que são os da igreja, e os nossos simples cristãos. Aliás, tal como fez, ao responder para o livro que escandalizou o mundo, quando se abriram as portas do armário do vaticano. Juntaram-se 80 jornalistas e investigadores que realizaram milhares de entrevistas. Portugal não ficou de fora. Assim como estas jornadas: os jovens não ficarão indiferentes à cartola, cheia de dinheiro.

Chega de hipocrisia. Chega de falsas riquezas. Recordo os princípios: pão e oração.

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