Erdogan lança farpa à Suécia e admite aceitar primeiro a adesão da Finlândia à NATO

Presidente turco insiste que a Suécia tem de extraditar 120 “terroristas” para a Turquia se quiser aderir à aliança. Mas também deixa um aviso à Finlândia: “Não pode cometer os mesmos erros.”

Foto
Recep Tayyip Erdogan, Presidente da Turquia Reuters/NACHO DOCE

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, admitiu lidar em separado com as candidaturas simultâneas da Finlândia e da Suécia à NATO, mostrando-se disponível para dar “luz verde” à adesão dos primeiros e para manter o bloqueio à entrada dos segundos na aliança atlântica.

Em causa está a posição irredutível do Governo turco sobre a presença de pessoas em território sueco que descreve como “terroristas”. Ancara pretende que sejam extraditadas para a Turquia para serem julgadas pela Justiça nacional e não aceita o alargamento da NATO enquanto Estocolmo não o fizer.

Trata-se, sobretudo, de elementos da comunidade curda que pediram asilo político na Suécia e que a Turquia diz pertencerem ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que consta na lista organizações terroristas da Turquia, dos Estados Unidos e da União Europeia.

Mas também de alegados membros da FETO, “Organização de Terror Fethullah”, a designação que o Governo turco dá aos suspeitos de ligações ao movimento do teólogo Fethullah Gülen, auto-exilado nos EUA, acusado de ser o arquitecto da tentativa de golpe de Estado de 2016 e considerado inimigo “número um” de Erdogan.

“Podemos enviar uma mensagem diferente à Finlândia [sobre a candidatura à NATO] e a Suécia vai ficar chocada quando vir a nossa mensagem”, afirmou Erdogan, num discurso transmitido no domingo pela televisão turca, citado pela Al-Jazeera.

“Entregámos uma lista de 120 pessoas à Suécia e dissemos-lhe para extraditar esses terroristas do seu país. Se quiser mesmo aderir à NATO, irá entregar-nos esses terroristas. Se não os extraditar, então, lamento”, disse o Presidente turco, que deixou, ainda assim, um aviso à Finlândia: “Não pode cometer os mesmos erros que a Suécia cometeu.”

Perante a invasão russa da Ucrânia, em Fevereiro do ano passado, Finlândia e Suécia puseram fim a décadas de neutralidade e formalizaram, em Maio, uma candidatura comum à NATO.

Durante várias semanas, a Turquia opôs-se à entrada destes países na NATO, mas, em Junho, numa cimeira da aliança em Madrid, foi anunciado um acordo histórico entre todas as partes que iria viabilizar a adesão dos dois países nórdicos.

Desde essa altura, Ancara tem insistido na extradição dos “terroristas”, sendo particularmente firme em relação à Suécia, que tem uma vasta comunidade dessa etnia no seu território, incluindo deputados de ascendência curda.

Mas os governos sueco e finlandês explicam que os processos em causa têm de respeitar os princípios do Estado de direito e que, por isso, a sua resolução está, em última instância, nas mãos dos tribunais nacionais.

A adesão dos dois países já foi confirmada por praticamente todos Estados-membros da NATO, ficando apenas a faltar o “sim” da Hungria – o Parlamento húngaro deve validar o alargamento em Fevereiro – e da Turquia.

Na semana passada, porém, as relações entre suecos e turcos atingiram um dos pontos mais baixos dos últimos meses.

A autorização do Governo liderado por Ulf Kristersson a uma manifestação, em Estocolmo, de apoio à comunidade curda, levou Ancara a cancelar uma visita iminente do ministro da Defesa sueco, Pal Jonson, à capital turca.

E as imagens de um líder de um pequeno partido da extrema-direita sueca, Rasmus Paludan, a queimar uma cópia do Corão em frente à embaixada da Turquia, motivaram a suspensão temporária nas negociações trilaterais.

Kristersson defende o regresso à mesa de diálogo, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, respondeu dizendo que, neste momento, esse cenário terá de esperar.

Apesar de manter a posição de que as candidaturas dos dois países à NATO são para permanecer unidas, o chefe da diplomacia finlandesa, Pekka Haavisto, reconheceu, na semana passada, que Governo da Finlândia poderá ter de repensar a estratégia de avançar em conjunto: “Temos de estar preparados para reavaliar a situação.”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários