Incêndio na Kiss: série da Netflix gera divisão entre grupos de pais de vítimas

Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de Santa Maria, no estado brasileiro de Rio Grande do Sul, discorda de pais que querem processar a plataforma de streaming.

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O acidente de 2013 vitimou 242 pessoas EDISON VARA/REUTERS

Lançada na última semana, a série Todo Dia a Mesma Noite gerou uma divergência entre os pais das vítimas do incêndio que matou 242 pessoas na discoteca Kiss, em Santa Maria (Rio Grande do Sul, Brasil), há dez anos.

A Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de Santa Maria, cujos membros efectivamente inspiraram os personagens retratados na produção, fez questão de distribuir uma nota informando que se sente “representada” pela série produzida pela Netflix, ao contrário de um outro grupo de pais de vítimas, que promete processar o serviço de streaming.

Ao jornal Gaúcha ZH, o empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes, que perdeu no incêndio a filha Évelin Costa Lopes, à época com 19 anos, falou que há um sentimento de indignação e injustiça entre esse outro grupo de pais de vítimas, que se formou em função das queixas à produção.

“Nós fomos apanhados de surpresa, ninguém nos avisou, ninguém nos pediu permissão. Nós queremos saber quem está a lucrar com isso. Não admitimos que ninguém ganhe dinheiro em cima da nossa dor e das mortes dos nossos filhos”, disse Lopes ao jornal gaúcho.

Em resposta a esse grupo, o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Gabriel Rovadoschi Barros, publicou um comunicado nas redes sociais, no qual garante que os familiares estavam “cientes que a produção estava sendo realizada com base nos personagens do livro” homónimo da jornalista Danila Arbex, e a entidade “sente-se representada” pela criação da Netflix e pelo livro.

O texto ressalta que a produção “não retrata de forma individual os 242 jovens assassinados, mas sim um recorte das quatro famílias de pais que foram processados. Todos os familiares das vítimas e sobreviventes retratados por personagens da obra estavam cientes e em concordância”.

O recorte a que Barros se refere é uma escolha fundamentada de modo objectivo: os pais retratados são os que foram processados por integrantes do Ministério Público por terem feito críticas à actuação dos promotores no caso. É por meio desses personagens que a série recorda o que aconteceu em Santa Maria, sem citar nomes reais.

Na semana anterior à estreia, a Netflix promoveu um encontro, até então inédito, entre alguns actores da série e os pais da vida real retratados, mas todos tinham conhecimento da produção desde o seu anúncio e por meio de Daniela Arbex, autora do livro, que serviu de ponte entre os dois lados.

A Netflix ainda não se manifestou sobre o assunto.


Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo
Nota: o PÚBLICO respeitou a composição do texto original, com excepção de algumas palavras ou expressões não usadas em português de Portugal.

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