Polícia de Memphis dissolve unidade “Scorpion”, implicada na morte de Tyre Nichols

Grupo foi criado para combater criminalidade nos bairros mais violentos de Memphis, mas ganhou má reputação por casos de agressão.

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Cinco agentes agridem Tyre Nichols (no centro) EPA/City of Memphis HANDOUT

Depois de o vídeo das agressões que resultaram na morte de Tyre Nichols ser tornado público, a polícia de Memphis decidiu dissolver a unidade “​Scorpion”, que integrava os cinco agentes da polícia envolvidos nas agressões que provocaram a morte de um jovem afro-americano. O grupo foi criado em Novembro de 2021, recebendo como missão o combate ao crime nas zonas mais violentas de Memphis.

No momento em que a unidade Scorpion foi anunciada, o responsável da polícia Sean Jones detalhou que o grupo se iria concentrar nos crimes relacionados com gangs, drogas e roubo automóvel. “É importante para nós que cada membro da comunidade sinta que pode ir à mercearia ou estar em casa sem que aconteçam tiroteios frequentes nas ruas ou nas estradas”, adiantou o responsável da polícia, citado pelo Los Angeles Times.

Os primeiros números impressionaram: em apenas três meses de actividade, a unidade deteve 566 suspeitos, apreendeu mais de 103 mil dólares em dinheiro, 270 veículos e 253 armas. O raio de acção desta unidade concentrava-se nas áreas com maior crime em determinado período, com os agentes a serem mobilizados para as zonas que mais registavam chamadas de socorro para os serviços de emergência.

Apesar dos resultados práticos, somavam-se relatos de uso de força excessiva. Ainda antes de a decisão ser conhecida, os advogados da família de Nichols, Benjamin Crump e Antonio Rommanucci, assinaram uma carta enviada ao departamento de polícia de Memphis, pedindo a extinção da Scorpion. Os advogados dizem ter recebido queixas de outros moradores, bem como provas fotográficas de outras agressões.

“Ele disse que foi confrontado por esta unidade e brutalizado. Tinha fotografias das lesões. Portanto, era previsível que algo trágico como isto iria acontecer”, garantiu Benjamin Crump, referindo-se a um homem de 66 anos, uma das alegadas vítimas da brutalidade desta unidade.

As imagens das agressões que culminaram na morte de Tyre Nichols geraram uma onda de indignação nos Estados Unidos, com o Presidente norte-americano, Joe Biden, a admitir estar “indignado” após assistir ao vídeo da operação. Nas últimas duas noites, os manifestantes saíram às ruas, uma revolta justificável aos olhos do Presidente, que pede apenas que não sejam cometidos actos de violência.

O que aconteceu?

Tyre Nichols foi parado por uma patrulha, no dia 7 de Janeiro, após uma alegada violação de trânsito. “Não fiz nada”, disse o jovem, no momento em que é abordado pela polícia. Os agentes estavam já de arma em riste, com o jovem a não mostrar uma conduta violenta e a procurar retirar tensão da situação. “Apenas estou a tentar ir para casa”, pode ouvir-se nas imagens captadas pelo agente. Ao ser ameaçado com um taser, Tyron consegue fugir aos agentes da polícia a pé. É interceptado pouco tempo depois pela mesma patrulha. As imagens que se seguem mostram Tyre já no chão imobilizado, a ser atingido nos olhos com um spray de gás pimenta.

As imagens mais marcantes são as captadas por uma câmara de vigilância instalada num poste de iluminação pública, onde se pode ver como os agentes pontapearam Nichols, inclusive na cabeça, e lhe bateram com um bastão. Tyre estava no chão, quase inconsciente, mas a violência não parou. Num destes momentos, dois polícias levantam o jovem do chão e fazem-no sentar. Incapaz de se segurar, é apoiado nesta posição por dois agentes, enquanto um terceiro o agride nas costas com um bastão extensível. Tyre chamou várias vezes pela mãe, com a violência a ocorrer a poucos metros de casa.

A equipa de emergência demorou 26 minutos a chegar ao local. Nichols acabou por morrer três dias mais tarde no hospital, na sequência dos ferimentos sofridos.

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