Cartas ao director

O preço do altar e o investimento em estádios

Eu acho que não sou particularmente esperto e é por isso, certamente, que há muita coisa que não percebo. Também não sou particularmente religioso, assim como, apesar de gostar de ver futebol bem jogado só o bom! –, também não tenho preferência clubística.

Sendo como sou, faz aos meus neurónios muita confusão esta polémica sobre o preço do altar da Jornada Mundial da Juventude. Então não é verdade que a receita prevista para a economia do país – hotelaria, restauração, transportes, museus, sei lá que mais supera muito largamente a despesa da sua organização? Porquê então esta polémica alimentada pelos políticos e pelos media (e por todos os que têm opinião sobre ela, provavelmente metade da população do país)? Pergunto-me se o mesmo aconteceria caso fosse uma despesa ou um investimento em estádios para um qualquer torneio internacional de futebol.

Diga-me quem souber e quiser, que eu sou burro e não percebo.

Jorge Mónica, Parede

Que grande despautério

Relativamente ao preço do altar para a JMJ, será possível que a Câmara Municipal de Lisboa vá custear este valor? Não será uma afronta, especialmente para os sem-abrigo, que não têm mesmo nenhum tecto para sobreviverem, para já não referir a situação de alguns bairros desta cidade, completamente degradados, para os quais não há verbas disponíveis para a reparação desses monos, onde cada um vive ao sabor da sua sorte? Este gasto suplementar por parte da CML não passa de um grande despautério.

Mário da Silva Jesus, Odivelas

Gasto de milhões

Era interessante percebermos quais as razões para que num país onde crescem os números da pobreza se gastem milhões na construção de equipamentos que tem uma utilização reduzida, quando custos da construção do mesmo podiam ser partilhados pela entidade eclesiástica que organiza o evento.

Os valores da instalação da infra-estrutura em causa são justificados, segundo alguns, tendo em conta a posterior utilização como garantia de retorno financeiro, pelo que seria importante sabermos se tal retorno iria compensar o custo inicial do avultado investimento. Ou, à semelhança de outros, também este ficará votado ao abandono?

Quando é suposto a Igreja ter também uma função social de proximidade com os mais desprotegidos, é pouco aceitável que se gastem verbas astronómicas numa estrutura para um evento que não estará acessível a todos.

Américo Lourenço, Sines

O santuário de Beirolas​

Os portugueses, na sua relação com a Santa Sé, sempre manifestaram o desejo de serem considerados o povo mais cristianíssimo do mundo. Esse título ficou para os franceses, mas nós, no reinado de D. João V, um monarca tão devasso como devoto, conseguimos comprar a peso de ouro e diamantes o título de “nação fidelíssima”, bem como o título de patriarca para o bispo de Lisboa e a coroação dos núncios, em Roma, após mandato em Lisboa. O Papa vendia tudo e os portugueses com embaixadas de luxo em Roma compravam o que podiam. O ouro acabou, menos a jactância e os hábitos fidelíssimos ao Papa.

A Igreja portuguesa, aquando da visita de um Papa a Lisboa, não conseguiu construir uma catedral no Alto do Parque, como pretendia. Hoje, o Estado (laico) dá-lhe a oportunidade de construir o seu altar de Pérgamo, digo, Beirolas, à custa dos contribuintes. Dizem que vai ser um mono monumental, um santuário rentável nas mãos dos habilidosos do costume.

Sílvia do Carmo, Arouca

O altar da vergonha

Bem sei que o sumptuoso foi, ao longo dos séculos, uma forma de os crentes julgarem que agradam a Deus, do que resultou, também, na forma de os príncipes pecadores e que precisaram da ajuda da Igreja para os seus intentos guerreiros e criminosos agradecerem ao Papa essa ajuda. Defendo que o próximo encontro de jovens católicos tenha dignidade e que o chefe da Igreja seja recebido em Portugal também com dignidade e simbolismo adequados, mas mais do que o sumptuoso seja um chão que propicie a fé e a difusão do amor universal aquilo que interessa edificar. Modéstia e sinceridade de sentimentos antes de tudo. Não creio que o Papa, este Papa, vá dar atenção ao sumptuoso, pelo contrário. Se dignitários do Estado e da Igreja, Carlos Moedas, e assim por diante, estão apostados em ganhar as graças do Papa Francisco com tal altar, tirem daí o cavalinho.

Elder Fernandes, Lisboa

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