Paraíso: uma ópera viva, mas desesperada
Musical e cenicamente estimulante, com crueza e risco, Paraíso deixa-se embrulhar em caminhos metafísicos por um libreto filosófico desequilibrado. E consola-se no fado.
Antes de a cortina abrir, um bailarino vestido de preto dança no proscénio. Ainda não começou, mas já começou. Paraíso lança depois uma evocação do inferno. O palco abre-se, desolado, sem as habituais cortinas laterais. Está coberto de cinzas, fogo, sacos de lixo. Ouvimos parte de um coro gravado de Inferno, a obra de Nuno da Rocha que é o antecessor directo desta ópera. Opção interessante, esta, a de incluir na música do espectáculo “discos” do passado, numa mesa onde está um gira-discos. Porque Paraíso parece, na sua primeira parte, levantar questões de memória: “conta-nos outra vez”, “conta-nos a Viagem”, dizem as Ménades (e os músicos também). A música de Nuno da Rocha lança um ambiente inicial interrogativo. O que terá acontecido? O que pode acontecer? Que fazer com as ruínas e a memória?
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