Parlamento autoriza Governo a legislar direitos de autor na Internet

Propostas que permitem ao Governo assumir sozinho a transposição das directivas europeias foram aprovadas pelo PS, PSD e Chega, com a oposição dos restantes partidos.

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Direitos de autor na Internet

O parlamento aprovou esta quinta-feira por maioria as propostas de lei que autorizam o Governo a legislar a transposição das directivas europeias sobre direito de autor e direitos conexos no mercado digital.

A votação mereceu os votos favoráveis do PS, do PSD e do Chega e os votos contra da Iniciativa Liberal, do PCP, do BE, do PAN e do Livre.

As propostas em causa, que autorizam o Governo a legislar sozinho a transposição das directivas europeias, foram contestadas por estes partidos, que, além de algumas reservas quanto ao conteúdo dos diplomas, se insurgiram quanto ao facto de a sua legislação sair da alçada da Assembleia da República.

Na opinião dos partidos que votaram contra, só a discussão por via parlamentar permitirá acautelar a pluralidade e a representatividade necessárias, por ser mais profunda, integral e participada.

Uma das directivas diz respeito a "direito de autor e direitos conexos aplicáveis a determinadas transmissões em linha", enquanto a outra se aplica a "direito de autor e direitos conexos no mercado único digital".

Entretanto, a Audiogest – entidade de gestão colectiva de direitos de produtores fonográficos – já veio congratular-se com a aprovação dos diplomas, que permitirá aos autores, artistas e produtores culturais do país passarem a ter um quadro jurídico comum aos congéneres dos outros países da Europa, permitindo-lhes obter a "justa remuneração pelos conteúdos que alimentam as grandes plataformas de partilha".

"Importa agora que o Governo prossiga este processo, com a celeridade que se impõe", destaca o director da Audiogeste, Miguel Carretas, citado pelo comunicado desta entidade.

Na quarta-feira, o debate parlamentar foi marcado essencialmente pelo atraso com que as directivas vão ser transpostas –​ já o deveriam ter sido até Junho de 2021 – e pelo facto de a matéria ser legislada pelo Governo e não pela Assembleia da República (AR).

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, defendeu que "o país tem muito a ganhar se existir um consenso político que reflicta o consenso social em torno das matérias" em discussão, e adiantou que, uma vez aprovadas as propostas de lei, será aberto um processo formal de consulta pública, dando mais uma vez oportunidade às várias entidades para se pronunciarem.

Questionado sobre prazos, o ministro assegurou que "o Governo iniciará muito rapidamente o prazo de consulta, que nunca será inferior a 30 dias".

O PSD, que votou favoravelmente as propostas, avisou, contudo, que usará os mecanismos parlamentares e legais ao seu dispor para fiscalizar a legislação e garantir que estas directivas, transpostas ao fim de quatro anos, vão ao encontro do interesse do sector da cultura, dos criadores e do país.

A Iniciativa Liberal manifestou-se contra uma "regulamentação exagerada da prática de partilha de conteúdos lesiva de liberdades individuais", enquanto o BE considera que a proposta do Governo "recorre a conceitos indeterminados sobre a remuneração de autores, artistas, intérpretes ou executantes".

O PCP entende que o mercado único digital é "um instrumento para aprofundamento de desigualdades entre os Estados membros" e que as propostas não favorecem os autores e criadores de países mais pequenos, como Portugal.

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