Como a liberdade em Portugal, faço 50 anos este ano. A biologia e a esperança média de vida impedem-me de concluir que é pouco tempo. Porém, já percebemos que para uma democracia pode ser pouco. O tempo não volta para trás, mas parece-me que em certos momentos nós conseguimos esse feito extraordinário. No que diz respeito à saúde do planeta também.

No ambiente e, especificamente, quando se fala de clima 50 anos é pouco tempo. Diferente das previsões meteorológicas (ou se preferirem, do tempo), o clima consiste nos padrões registados ao longo de pelo menos 30 anos. O nosso planeta formou-se há 4,5 mil milhões de anos, 50 anos é uma minúscula migalha.

Felizmente, os últimos 50 anos serviram para aumentar o conhecimento e a percepção da gravidade do problema da crise climática, sobretudo quando começou a roubar mais vidas, destruir mais cidades e afectar mais os cofres dos governos do mundo. Infelizmente, os últimos 50 anos provam que estamos a fazer muito pouco e que esta migalha da nossa história pode ser uma catástrofe.

Se quisermos ver como estava o nosso planeta no ano em que nascemos para ter noção do que correu mal desde aí, recomendo o espantoso exercício concebido por Rui Barros e José Volta, os nossos jornalistas de dados, para o AZUL. Se preferir, faça de conta que tem 50 anos e veja o que mudou desde aí. Está aqui.

O 25 de Abril faz 50 anos e o Dia da Terra, que é celebrado em todo o mundo no dia 22 de Abril e que esta semana foi notícia no Azul, tem mais de 50 anos. Em 1970, quando 20 milhões de pessoas saíram à rua em defesa do planeta, o tom já era de urgência, mas ainda havia entusiasmo.

Hoje multiplicam-se os protestos contra a inacção (que já entraram pela porta da Justiça, com cidadãos contra governos). Fomos – novos e velhos – convocados a vir para a rua gritar.

E a voz de muitos jovens, por mais que muitas pessoas possam questionar os seus métodos e mensagens hiperbólicas, só é silenciada provisoriamente com a detenção de activistas em vários países. Por cá, o julgamento de onze apoiantes do movimento Climáximo acusados do crime de desobediência começou esta semana com uma primeira sessão realizada e duas adiadas. Ficou a promessa que os protestos vão continuar.

E não faltam motivos para isso. A população mundial duplicou, a economia ou a agricultura ainda não mudou de rumo para fazer a transição que se exige, o progresso é desigual, as catástrofes e extremos climáticos magoam todos, mas sobretudo os mais pobres. A extracção de recursos naturais triplicou, com impactos severos nas emissões de gases com efeito de estufa, na qualidade e quantidade da água para consumo humano, na nossa saúde. A assustadora perda de biodiversidade dá a sensação que a vida de animais e plantas se transformou em areia que nos escapa entre os dedos da mão.

Desde o primeiro Dia da Terra em 1970 para cá, a concentração do dióxido de carbono na atmosfera, o gás mais importante para o efeito de estufa, passou de 325 para 422 partes por milhão (ppm), em Janeiro de 2024.

Outro indicador a fazer disparar o alarme: o aumento da temperatura média global. Em 2015, em Paris, uma boa parte dos líderes do mundo prometeu que iria limitar a subida bem "abaixo dos dois graus Celsius" e a prosseguir esforços para "limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius" em relação aos níveis pré-industriais, até final do século XXI.

Onde estamos? Ora, pois bem, temos lamentar um aumento de 1,2 graus de temperatura média nos últimos anos, e em 2023 provámos que estamos no rumo certo para o desastre com a média global do aumento a chegar 1,49 graus.

Desde 2005, fizemos 28 cimeiras do clima a procurar soluções. Em Dezembro, no Dubai, aplaudimos o princípio do fim dos combustíveis fosseis. Esta semana, foi notícia que as acções da Galp disparam 20% após "importante descoberta" na Namíbia. Uma alternativa aos fosseis? Não, a empresa deu conta de que, ainda sem perfurar poços adicionais de exploração, as estimativas de hidrocarbonetos nesta nova exploração "são de 10 mil milhões de barris de petróleo equivalente, ou mais".

Em tempo de olhar para o tempo que passou, dispenso os leitores do deprimente confronto com os cenários, previsões e prognósticos dos cientistas para os próximos 50 anos. Limito-me a lembrar que não são boas notícias e que nesta década é decisivo cumprir um manual de sobrevivência.

Para alimentar alguma esperança tem-me servido a experiência no Azul, que também fez dois anos esta semana. Uma pequena amostra do que fizemos no último ano está aqui e prometo que na longa lista do que temos feito desde 22 de Abril de 2022 há também muitas boas notícias.

O 25 de Abril faz 50 anos, o Dia da Terra fez 54 anos a 22 de Abril e nesse mesmo dia o Azul fez dois anos. Quero continuar a celebrar todas estas datas e com boas razões para isso.