Périplo africano de Lavrov leva-o a Angola à procura de apoios

Ministro dos Negócios Estrangeiros russo vai visitar sete países africanos em poucas semanas. Luanda condenou a anexação de territórios ucranianos, depois de ter evitado condenar a invasão da Ucrânia.

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Lavrov recebido pelo seu homólogo angolano, Téte António LUSA/AMPE ROGERIO

Numa altura em que a Rússia aumenta a sua presença militar em África, dando mais um passo na sua crescente influência no continente, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Moscovo, Serguei Lavrov, realiza nesta quarta-feira uma visita a Angola, país que se juntou à maioria dos que condenaram a anexação de regiões ucranianas por parte do regime russo.

Depois de um encontro com o seu homólogo angolano, Téte António, Lavrov tinha prevista uma audiência com o chefe de Estado, João Lourenço. Tem ainda visitas planeadas ao Memorial Dr. António Agostinho Neto, ao jazigo do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos e ao Museu Nacional de História Militar, passando também pela Escola da Embaixada da Federação Russa.

Angola tem vindo a reposicionar-se nos últimos meses em termos de política externa, aproximando-se dos Estados Unidos e da União Europeia e distanciando-se da Rússia. Depois de se ter posicionado de forma neutra perante a guerra na Ucrânia, abstendo-se de votar uma resolução das Nações Unidas a condenar a invasão, em Março, em Outubro já votou para condenar a anexação de territórios ucranianos — tema que estará na agenda das discussões políticas desta quarta-feira.

Lavrov aterrou em Luanda vindo da África do Sul — país que é um dos mais próximos aliados de Moscovo no continente e que também não condenou a invasão de Fevereiro do ano passado —, onde ouviu a ministra Naledi Pandor descrever a Rússia como um “país amigo”. No próximo mês, a Marinha sul-africana vai participar em exercícios conjuntos com forças navais russas e chinesas, planos que motivaram críticas de Washington ao Governo sul-africano.

John Steenhuisen, líder do principal partido da oposição de Pretória, Aliança Democrática, que em Maio visitou a Ucrânia, discorda da proximidade a Moscovo. “A expansão da Rússia em África tem sido feita através da ‘captura das elites’, com líderes influenciáveis que se deixam enredar em esquemas de clientelismo de longo prazo”, descreveu Steenhuisen, citado pela Al-Jazeera. “Actualmente, há 15 nações africanas envolvidas em acordos nucleares financiados pela Rússia e muitas mais estão presas a contratos de segurança russos”, denunciou.

A par da África do Sul e de Angola, Lavrov esteve também no Botswana e em Eswatini, e vai regressar na próxima semana ao continente para visitas a Marrocos, Tunísia e Mauritânia. Isto a poucos meses da cimeira Rússia-África, marcada para 26 a 29 de Julho, em São Petersburgo, encontro que a diplomacia russa quer ver centrado na discussão sobre cooperação energética e segurança alimentar.

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