No altar de cinco milhões, vão caber duas mil pessoas, entre bispos, padres, cantores e músicos

Câmara fixa investimento nos 35 milhões de euros e justifica valor elevado do palco como um investimento que ficará para a cidade.

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Palco terá nove metros de altura e vai ocupar o equivalente a meio campo de futebol

A estimativa que a Câmara de Lisboa fizera de investir cerca de 35 milhões de euros na realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) parece confirmar-se, tendo em conta o plano de investimentos que o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, apresentou nesta quarta-feira. Para a área do parque urbano do Tejo-Trancão, está previsto um investimento de 21,5 milhões de euros, onde se inclui o polémico altar-palco, que custará aos cofres da autarquia mais de cinco milhões de euros, num ajuste directo a uma das maiores construtoras nacionais.

Depois de muitas questões levantadas, o município marcou uma conferência de imprensa no próprio local da obra para explicar, entre outras coisas, o que justifica o valor avultado desta obra.

Filipe Anacoreta Correia começou por afirmar que este é um “grande evento para a cidade”, que exige um palco que “não tem nada que ver com outro palco feito em Portugal”. Terá de responder, “em termos de dimensões” ao que foi conversado e acordado com a Igreja Católica, nomeadamente com a Fundação JMJ Lisboa, explicou o autarca. “A Fundação JMJ, em diálogo com a Santa Sé, estabeleceu um conjunto de requisitos”, disse.

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Anacoreta Correia justificou o custo elevado do palco com a sua dimensão e complexidade: terá uma área de cinco mil metros quadrados (meio campo de futebol), capaz de acolher duas mil pessoas, entre mil bispos, celebrantes, coro, orquestra e staff. Será elevado a nove metros, com uma estrutura de três plataformas, para “poder ser visto pelo maior número de pessoas”, terá ainda dois elevadores e uma escadaria central para acesso dos jovens ao palco. O seu projecto de arquitectura ficou a cargo de arquitectos da própria Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), a empresa municipal de obras.

O palco, disse ainda, foi pensado para “potenciar o investimento para o futuro” e para ter condições de acolher outros eventos. Segundo diz o vice-presidente, já há promotores internacionais interessados em realizar ali os seus eventos.

Quanto à opção de adjudicar a obra à Mota-Engil por ajuste directo, o vice-presidente explicou que a empresa municipal de obras, a SRU, consultou previamente sete empresas, que apresentaram propostas entre os 4,4 e os 8,5 milhões de euros para a construção do altar-palco. Depois de três rondas, acabou escolhida “a empresa que apresentou a melhor proposta em todas as fases do procedimento”. “Houve essa preocupação de a SRU ter o melhor preço”, disse, acrescentando que essa informação será remetida para o Tribunal de Contas.

Na área do parque urbano Tejo-Trancão, o município conta gastar em estudos, projectos e fiscalização 1,6 milhões de euros, mais 7,1 milhões na reabilitação do aterro sanitário de Beirolas, mais um milhão em ensaios e fundações, 4,2 milhões no altar-palco, mais 4,2 milhões em infra-estruturas e equipamentos, como o saneamento, abastecimento de água e electricidade e mais 3,3 milhões na ponte pedonal sobre o rio Trancão. “São terras onde assentou um aterro”, lembrou, para justificar a complexidade de todos os trabalhos.

O investimento municipal para a realização do evento não se estende, contudo, apenas a esta zona da cidade, que faz fronteira com Loures — que, de resto, partilha com a capital responsabilidades na organização do evento, em que prevê gastar cerca de nove milhões de euros.

Em Lisboa, os eventos vão estender-se, por exemplo, ao Parque Eduardo VII, onde vai ser preciso montar um outro palco, que será depois desmontado. Anacoreta Correia não quis revelar quanto vai custar, mas afirma que serão “valores grandes, mas substancialmente inferiores” ao palco do Parque Tejo.

Os eventos vão ainda estender-se ao Terreiro do Paço, Parque da Belavista, Alameda Dom Afonso Henriques, locais onde será preciso montar palcos, iluminação, ecrãs, som e casas de banho. Para tudo isto, a câmara tem destinado 13,5 milhões de euros. “Grande parte desses trabalhos não estão ainda contratados”, disse Anacoreta Correia, que acredita que, a reboque deste investimento, os serviços de higiene urbana, o Regimento de Sapadores Bombeiros, a Polícia e a Protecção Civil municipal serão também reforçados.

“O que resultará para a cidade depois de todo este investimento é uma alteração muito substancial de todo este envolvimento”, insistiu o vice-presidente. Dos 21,5 milhões de euros para a requalificação dos 38 hectares da zona do Trancão para este evento, o autarca prevê que 19 milhões sejam um investimento de futuro, dando como exemplo a ponte pedonal que está em construção, um “grande parque verde” e até o próprio palco.

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