Porque não também Tommy Paul?

O norte-americano vai estrear-se nas meias-finais de um major defrontando o “imbatível” Novak Djokovic no Open da Austrália.

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Tommy Paul é uma das actuais referências do ténis norte-americano EPA/LUKAS COCH

Dos 15 tenistas dos EUA que, na próxima semana, vão aparecer entre os cem primeiros do ranking mundial, 11 têm 25 anos ou menos. O contingente continuará a ser liderado por Taylor Fritz (oitavo na tabela), o primeiro americano a triunfar em Indian Wells desde 2001 e semifinalista nas últimas ATP Finals, e Frances Tiafoe (17.º), o primeiro semifinalista do seu país no US Open desde 2006. A seguir, vem Tommy Paul (19.º) que nesta quarta-feira se tornou no primeiro americano a atingir as meias-finais do Open da Austrália, desde 2009.

“Vemos o Fritz a ganhar um Masters 1000 e todos ficamos felizes por ele, mas pensamos: ‘Ele conseguiu, nós podemos fazer isso'. E depois o ‘Foe’ vai às meias-finais do US Open e quem sabe o que aconteceria se tivesse vencido aquele encontro? E nós dizemos: ‘Espantoso, estou feliz por ele, mas eu posso fazer aquilo’”, contou Paul, antes de revelar: “Desde os 14 anos que só ouvimos os treinadores dizerem: ‘Precisamos de novos americanos, precisamos de novos americanos’. Acho que ficou gravado na minha cabeça. Todos queremos ter sucesso”.

Os resultados estão a surgir: pela primeira vez desde 2005, três americanos estiveram nos quartos-de-final masculinos de um Grand Slam: Tommy Paul, Sebastian Korda (26.º no próximo ranking) e Ben Shelton (43.º). Esta nova vaga inclui ainda Jenson Brooksby (38.º), J.J. Wolf (47.º), Reilly Opelka (48.º), Brandon Nakashima (49.º), Massime Cressy (54.º) e Michael Mmoh (82.º).

Depois de ter praticado igualmente basquetebol e beisebol, Paul dedicou-se ao ténis e começou a destacar-se ainda júnior, quando conquistou o torneio do escalão em Roland Garros, ao derrotar Fritz que, quatro meses depois, vingar-se-ia na final do US Open.

Foi nesses tempos que conheceu o pai de Ben, Bryan Shelton, 55.º mundial nos anos 90 e, então, treinador na federação dos EUA. Por essa razão, Paul “adoptou” Ben que, aos 20 anos e a competir pela primeira vez fora dos EUA, está a adaptar-se a uma nova vida no circuito, tendo mesmo iniciado um curso online de Gestão de Negócios, e agradece os seus conselhos.

Mas amigos, amigos, ténis à parte. Com o excelente ambiente na Rod Laver Arena a recordar o circuito universitário do qual é campeão em título, Shelton voltou a exibir um ténis pujante e a servir eficazmente até meio do segundo set, quando sofreu o primeiro break – o que não acontecia desde a segunda ronda. Mas o mais jovem americano cedeu à maior experiência de Paul, que fez a diferença nos momentos decisivos (excepto quando serviu a 4-3, 30-0, no terceiro set), para ganhar, por 7-6 (8/6), 6-3, 5-7 e 6-4.

“Chegar à segunda semana de um Grand Slam é o sonho de todos quando começa a jogar ténis, nem quero acreditar. Estou tão feliz por ter ganho este encontro, Ben é um jogador muito duro de defrontar e vai estar em muitos mais encontros como este”, afirmou o vencedor do primeiro duelo entre dois norte-americanos nos oitavos-de-final de um major desde 2007.

Paul chegou a Melbourne no 35.º posto e ontem actuou pela primeira vez na principal Arena de Melbourne Park, sob o olhar da sua mãe, que viajou propositadamente dos EUA para ver o filho qualificar-se para as “meias” e garantir, aos 25 anos, a estreia no top 20 do ranking mundial. A entrada no top 50 acontecera no final de 2021, após conquistar o seu único título ATP, em Estocolmo.

“Gosto de pensar que nos últimos quatro anos da minha carreira dei passos seguros a subir”, afirmou Paul, um tenista cada vez mais completo e sólido, como se comprova pelos números da última ronda: 43 winners, 86% de pontos ganhos com o primeiro serviço e 68% no segundo, 82% de sucesso na rede e 26 erros não forçados (seis por set). “Tommy está mais forte e levou o seu atleticismo natural para outro patamar. Levou algum tempo a disciplinar-se, mas é óptimo constatar o seu sucesso”, confessou o amigo Opelka.

Para ajudar a lidar com a pressão da competição, Tommy Paul costuma refugiar-se na quinta da família em Nova Jérsia, onde conduz tractores e ajuda a cuidar de mais de uma centena de animais. “É divertido e sempre fui de estar ao ar livre. Seja na praia ou quando visito a família, gosto de estar ao ar livre todo o dia”, revelou.

Nas meias-finais, Paul tem a tarefa difícil de ultrapassar Novak Djokovc, que nunca perdeu nas nove vezes em que chegou a esta fase do Open da Austrália. O sérvio igualou o recorde de Andre Agassi, de 2004, e somou a 26.ª vitória consecutiva em Melbourne, ao derrotar o russo Andrey Rublev (6.º), por 6-1, 6-2 e 6-4.

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