Zelensky afasta 15 altos responsáveis entre suspeitas de corrupção

Presidente da Ucrânia anuncia remodelação profunda em resposta às “exigências” dos ucranianos. A guerra não acabou com a corrupção dos políticos ucranianos.

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Zelensky promete que não haverá "regresso ao passado" na corrupção EPA/OLEG PETRASYUK

Dias depois de o vice-ministro das Infra-estruturas da Ucrânia ter sido despedido e detido, acusado de ter recebido um suborno de 370 mil euros, o Presidente, Volodymyr Zelensky, anunciou uma remodelação governamental em resposta a “uma exigência fundamental da opinião pública”, a de que a justiça se aplique a todos. Ao todo, onze pessoas foram afastadas esta terça-feira, num total de 15 altos responsáveis que saíram dos seus cargos desde sábado. Destes, seis estão a ser investigados por corrupção ou foram visados em notícias recentes sobre um caso de alegadas compras de material logístico a “preços inflacionados”.

Os primeiros a anunciar a demissão foram um dos principais assessores de Zelensky, filmado por jornalistas ao volante de um carro de um importante empresário; o vice-ministro da Defesa, em cujo gabinete as autoridades encontraram 35 mil euros em dinheiro, e o vice-procurador-geral, que em Dezembro foi de férias a Espanha ao volante de um Mercedes que também pertence a um empresário.

Segundo os media ucranianos, Kyrylo Tymoshenko, chefe adjunto do gabinete presidencial e assessor de Zelensky desde que trabalhou na sua campanha eleitoral, não é suspeito de corrupção, e o mesmo acontece com vários dos que foram afastados. Mas fica claro que as notícias dando conta do seu “uso pessoal de carros caros” desde o início da invasão russa contribuíram para este desfecho, agora que Zelensky prometeu que não haverá “nenhum regresso ao passado, à forma como as várias pessoas próximas das instituições do Estado” costumavam viver – a Ucrânia tem um grave historial de corrupção e resolver esse problema foi sempre a principal exigência na União Europeia para a candidatura do país.

A remodelação levou ainda à saída de cinco governadores, com apenas um a ser investigado por corrupção (o jornal Ukrainska Pravda adiantara que os chefes de quatro governos regionais – Sumy, Dnipro, Zaporijjia e Kherson – poderiam ser os próximos a cair pela sua proximidade com Tymoshenko); outros três ministros-adjuntos e dois chefes de agências estatais, nenhum dos quais está acusado de corrupção.

“As decisões pessoais de Zelensky são testemunho das principais prioridades do Estado. O Presidente vê e ouve a sociedade. E responde directamente a uma exigência fundamental da opinião pública – justiça para todos”, escreveu esta terça-feira no Twitter Mykhailo Podolyak, conselheiro presidencial. Todos os responsáveis estatais estão impedidos de sair da Ucrânia, excepto para viagens de trabalho autorizadas. "Agradecemos que as autoridades ucranianas estejam a levar este assunto a sério", comentou a porta-voz da Comissão Europeia, Ana Pisonero, na conferência diária, em Bruxelas.

O ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, tem estado na mira das críticas, depois de notícias que sugerem a assinatura de um contrato para comprar comida para os militares a preços inflacionados – o caso que levou à detenção do seu adjunto, Vyacheslav Shapovalov, e que Reznikov foi acusado de protelar. Shapovalov era responsável pelo apoio logístico às Forças Armadas.

David Arakhamia, chefe do grupo parlamentar do partido de Zelensky, o Servo do Povo, e principal negociador da Ucrânia nas conversações com o regime russo que se seguiram ao início da guerra, defendeu que os políticos envolvidos em corrupção devem cumprir penas de prisão.

“Responsáveis de todos os níveis têm sido avisados constantemente através de canais oficiais e oficiosos: foquem-se na guerra, ajudem as vítimas, reduzam a burocracia e deixem-se de negócios duvidosos. Muitos ouviram, mas alguns, infelizmente, não”, sublinha Arakhamia numa declaração divulgada no Telegram. “Se não funciona de uma forma civilizada, será feito de acordo com as leis da guerra. Isto aplica-se tanto às recentes compras de geradores como aos novos escândalos no Ministério da Defesa”.

O 15º afastado é precisamente o "número dois" de Arakhamia no Parlamento, Pavlo Halinon, que terá comprado uma casa em Kiev por um valor bem acima dos seus rendimentos. "Se um deputado tem alguns milhões de hryvnia (moeda ucraniana, correspondente, em euros, a 0,025 cêntimos) a mais deve ajudar o seu país. Esse é o seu dever", defendeu ainda Arkhamia. "A componente ética deste acto contradiz os nossos valores e a nossa visão do que deve um deputado fazer durante uma guerra."

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