Lula inaugura na Argentina as viagens internacionais do terceiro mandato

Visita a país vizinho para participar em cimeira regional sinaliza a vontade do Brasil em relançar a integração entre os países sul-americanos.

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Lula à chegada a Buenos Aires, no domingo à noite EPA/Argentine Foreign Ministry / HAN

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, faz esta segunda-feira a primeira viagem oficial do seu terceiro mandato como chefe de Estado. Em Buenos Aires, Lula será recebido pelo homólogo argentino, pela sua vice e ainda irá participar numa cimeira regional onde irá encontrar-se com vários líderes sul-americanos, incluindo Nicolás Maduro.

O prato forte do encontro com o Presidente argentino, Alberto Fernández, é o lançamento das discussões sobre a criação de uma moeda comum para a região, que até já tem uma proposta de nome – “Sur” –, mas tem um futuro incerto. O próprio ministro das Finanças argentino, Sergio Massa, disse ao Financial Times que há ainda um longo caminho a percorrer e muitas decisões difíceis a serem tomadas.

Um objectivo mais imediato, do ponto de vista do Brasil, é o relançamento das relações na região depois de quatro anos marcados por um isolacionismo promovido por Jair Bolsonaro. Na terça-feira, por exemplo, o Brasil volta a participar numa cimeira Comunidade dos Estados Latino-Americanos e das Caraíbas (CELAC), depois de ter estado ausente nos últimos dois anos.

Para além da afinidade ideológica entre Lula e Fernández há igualmente uma forte relação pessoal entre os dois chefes de Estado. O Presidente argentino chegou a visitar Lula à prisão em Curitiba, onde passou mais de um ano depois de ser condenado por corrupção. Fernández foi também o primeiro chefe de Estado a encontrar-se com Lula após as eleições presidenciais, ainda em Novembro.

Esta proximidade contrasta com a hostilidade aberta entre Fernández e Bolsonaro, que, durante as eleições presidenciais argentinas de 2019, chegou a chamar “bandidos de esquerda” aos então candidatos, Alberto Fernández e Cristina Kirchner.

O entendimento entre Brasil e Argentina é encarado como fundamental para que as parcerias de âmbito regional na América do Sul ganhem uma nova vida. "Se não houver uma relação funcional entre os presidentes brasileiro e argentino, nenhuma grande iniciativa regional ou coordenação ampla pode avançar", dizia à BBC Brasil o professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel.

Para além de se reunir com Fernández, Lula também será recebido pela vice-presidente, Cristina Kirchner, embora de forma separada. Os mandatos dos dois coincidiram durante vários anos e ambos mantêm boas relações, segundo a imprensa brasileira. Recentemente, Kirchner foi, tal como Lula, condenada num caso de corrupção e tem usado o exemplo do Presidente brasileiro como termo de comparação de um abuso judicial como diz também sofrer.

Em Buenos Aires, Lula também vai participar na cimeira da CELAC que marca o regresso do Brasil a este organismo regional de 33 países depois de dois anos em que a sua adesão esteve suspensa. Nesse contexto, o Presidente brasileiro vai encontrar-se com líderes como o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ou o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel.

Depois de passar pela Argentina, Lula ainda vai visitar Montevideu, onde será recebido pelo Presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, e pelo ex-chefe de Estado, Pepe Mujica.

A agenda internacional de Lula para os primeiros meses de mandato já está definida e inclui viagens aos EUA, China e a Portugal, em Abril, por ocasião da entrega do Prémio Camões a Chico Buarque.

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