A sorte do outro russo, Andrey Rublev

No primeiro embate entre dois top 10 neste Open da Austrália, o actual número seis do ranking venceu Holger Rune.

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EPA/JAMES ROSS

A ascensão do russo Dannil Medvedev ao primeiro lugar do ranking mundial na sequência da conquista do US Open de 2021, em cuja final derrotou Novak Djokovic, ofuscou a carreira igualmente ascendente do compatriota Andrey Rublev. Presença permanente no top 10 desde Outubro de 2020, o russo recebeu mesmo o prémio anual da ATP para o jogador que mais progrediu nesse ano, ao subir do 23.º para o oitavo posto do ranking mundial. Rublev ainda procura atingir as meias-finais de um torneio do Grand Slam, mas a sorte pode estar a mudar.

No primeiro embate entre dois top 10 neste Open da Austrália, o actual número seis do ranking venceu Holger Rune (10.º), por 6-3, 3-6, 6-3, 4-6 e 7-6 (11/9). Mas foram precisas 3h37m para se conhecer o vencedor de um encontro que Rublev vai “recordar para o resto da vida”.

O tenista russo não aproveitou o jogo de serviço para fazer o 5-5 no quarto set e, no set decisivo, esteve a perder por 2-5, anulou dois match-points a 5-6 e, no tie-break (até aos 10 pontos), recuperou de 0/5 e 2/7. A sorte veio na forma de um “net cord”: no terceiro match-point, a bola vinda da raqueta de Rublev bateu na parte superior da rede e caiu “morta” no lado do dinamarquês, encerrando um tipo de encontro habitualmente descrito como montanha-russa.

“Não foi uma montanha-russa, foi como se me apontassem uma pistola à cabeça. O último ponto nunca me tinha acontecido, foi provavelmente o momento mais sortudo da minha vida. Agora, posso ir ao casino”, brincou Rublev.

Criticado por muitos por não se manifestar contra Vladimir Putin, líder da Rússia, o moscovita de 25 anos foi dos primeiros a aproveitar o mediatismo do circuito ATP para, em Fevereiro de 2022, no Dubai, escrever numa das câmaras que cobriam o torneio “No war please”. Só depois é que Medvedev manifestou igualmente o seu apelo à paz.No final de Novembro, durante as ATP Finals, em Turim, Rublev voltou a escrever “Peace, peace, peace, all we need”. “A mensagem que escrevi no Dubai foi o gesto com mais significado que poderia ter tido durante todo o ano”, admitiria no final da época.

As “batalhas” de Rublev são geralmente contra si próprio e contra os adversários. Mentalmente, o temperamental russo tem apresentado melhorias, embora mantenha as explosões verbais de cada vez que comete um erro. Mas tem conseguido recuperar o foco rapidamente e só assim logrou ultrapassar Rune. “Esta é a primeira vez na minha vida que ganho um encontro assim, ainda para mais num torneio especial como é o Open da Austrália”, afirmou Rublev, autor de 58 winners (incluindo 22 ases) e com 64% de sucesso na rede.

Esta é a sétima vez que o tenista russo se qualifica para os quartos-de-final de um torneio do Grand Slam, sem nunca ter conseguido ir mais além. Se o seu ténis extremamente agressivo sempre esteve lá, falta saber se Rublev tem a força mental para acreditar que pode ultrapassar agora Novak Djokovic, que procura o 10.º título no Open da Austrália. O sérvio somou a 25.ª vitória consecutiva em Melbourne (desde 2018) ao ultrapassar o herói local, Alex de Minaur (24.º), incapaz de fazer melhor do que ganhar cinco jogos.

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