“Há muito talento em Portugal para a vela offshore

Após discutir os primeiros lugares até o final, a Mirpuri Foundation Racing Team foi forçada a desistir a poucas milhas de concluir a primeira etapa da Ocean Race 2023.

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O barco português da Mirpuri Foundation Racing Team Robin Christol

A performance competitiva não defraudou as expectativas e, à chegada à Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, a Mirpuri Foundation Racing Team, equipa com tripulação 100% portuguesa, foi a terceira a cortar a meta, sendo apenas superada por dois veleiros VO65 que tinham a bordo alguns dos nomes grandes da vela offshore mundial. Porém, um erro de navegação perto de Gibraltar, numa altura em que a frota da Ocean Race enfrentava condições muito adversas, forçou o veleiro nacional, liderado por António Fontes, a retirar-se da regata. Embora “desapontado com o resultado”, o skipper português realça que o desempenho da Mirpuri Racing Team confirma que “em Portugal há talento para isto e muito mais”.

Foram seis dias intensos e ao longo das 1900 milhas náuticas (aproximadamente 3500 quilómetros) entre Alicante, no Sul de Espanha, e Mindelo, na ilha cabo-verdiana de São Vicente, a frota da Ocean Race enfrentou condições extremas, com ventos a rondar os 50 nós e ondas de três e quatro metros.

Estas condições adversas não impediram, no entanto, que a Mirpuri Racing Team, constituída por uma tripulação 100% portuguesa e maioritariamente sem experiência de vela offshore, se batesse com os melhores e conseguisse ter o registo de maior velocidade média em 24 horas. Todavia, com a ilha de São Vicente no horizonte, a equipa nacional comunicou a decisão de que se retirava da regata, perdendo o último lugar do pódio, apenas atrás do WindWhisper Racing Team, que tinha a bordo velejadores de alto nível (Pablo Arrante, Antonio 'Ñeti' Cuervas-Mons, Liz Wardley ou Aksel Magdahl) e da talentosa e promissora tripulação do Team JAJO, liderada por Jelmer van Beek, que teve ao seu lado o consagrado Bouwe Bekking, que tem no seu currículo quase uma dezena de presenças na mais importante prova de circum-navegação de vela por equipas.

Em conversa com o PÚBLICO, António Fontes começou por explicar que a saída do Mediterrâneo foi “muito dura”. “Na saída de Gibraltar apanhámos muito vento. Vi 48 nós, mas esteve um pouquinho mais. Foi muito difícil para a tripulação, com condições de vida a bordo muito difíceis Até Gibraltar, praticamente ninguém conseguiu dormir, porque estávamos sempre a fazer manobras”, conta o skipper da Mirpuri Racing Team.

Foi precisamente no período mais difícil da primeira regata da Ocean Race que um erro hipotecou as hipóteses portuguesas. António Fontes conta que o VO65 com bandeira portuguesa “não rondou a bóia que” devia “ter rondado” e, “por esse razão”, a equipa comunicou antes de chegar a Cabo Verde que se iria “retirar da regata, ficando sem classificação”.

Embora admita o “desapontamento” pelo resultado, Fontes realça a qualidade do desempenho da Mirpuri Racing Team: “A tripulação esteve impecável e o trabalho foi muito bom. Navegámos muito bem e esta é uma tripulação muito nova, que tinha velejado muito pouco tempo junta. Havia pouca gente que conhecia realmente o barco e chegámos a Gibraltar taco a taco com o primeiro classificado.”

Para velejador de 39 anos, o desempenho da equipa nacional confirma que “há muito talento em Portugal para a vela offshore”. “Desta vez os astros alinharam-se muito bem para formar este projecto, que tem pernas para andar. Ainda temos duas etapas no Verão e ainda temos hipóteses. Há muitos pontos em jogo. Mostramos que também estamos cá, que existimos e que os portugueses não são acrescentos. Podemos formar uma tripulação inteira e fazer tudo de A a Z, tão bem ou melhor do que os outros. Basta ter a mesma experiência.”

O jornalista viajou a convite da Ocean Race

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