Palcos da semana: do samba à tragédia, um Paraíso de cinema e guitarra
O Porto assiste a Finisterra; Lisboa, à nova ópera de Nuno da Rocha. Marcelo D2 traz samba-rap, enquanto o Alentejo celebra António Chainho e o Algarve exibe o cinema social da Monstrare.
Iphigénie para começar Finisterra
Em Julho de 2022, a cortina do Festival de Avignon subiu com a estreia de uma peça de Tiago Rodrigues, quando o encenador e dramaturgo português estava a semanas de assumir a direcção do prestigiado festival francês. Encenada por Anne Théron e interpretada por um elenco franco-português, Iphigénie chega agora ao Teatro Nacional São João.
Vem abrir a Finisterra, uma mostra que vai buscar à tragédia grega raízes para interrogações actuais sobre a ideia de catástrofe. Resulta de um projecto desenvolvido com teatros nacionais de dez países europeus – no caso de Iphigénie, o Théâtre National de Strasbourg –, num total de cinco espectáculos colaborativos.
Os próximos a subir ao palco portuense, até 25 Fevereiro, são Decalogue of Anxiety, Prometheus ’22, Focs/Vatre e Iokasté (mais informações aqui).
Marcelo D2 em fé e folia
Conhecidas que são as manobras de Marcelo D2 quando se trata de juntar à cartilha hip-hop apontamentos de jazz ou ritmos contagiantes como o samba, elas ganham outra dimensão quando o músico brasileiro se associa à portuense Orquestra Bamba Social.
É neste formato de roda de samba, a visitar clássicos da MPB e em jeito de aperitivo para o Carnaval, que o reencontramos em três concertos. Promete mostrar também um pouco de Iboru, o novo álbum, que segue a receita samba-rap e vem servido pelo single Povo de fé.
Aos 30 anos, Paraíso
Cumpridos 30 anos de portas abertas, o Centro Cultural de Belém prepara-se para abrir as comemorações do aniversário. Um Paraíso vem à cabeça. É o título da ópera de câmara que foi encomendada a Nuno da Rocha para a ocasião e que agora é apresentada em estreia absoluta. É coreografada e dirigida por Marcos Morau, da companhia catalã La Veronal, e conta com Pedro Neves na direcção musical.
Descrita por Rocha como a “história de uma ilha”, protagonizada por uma ninfa que fala “da sua viagem com as Ménades que fugiram do continente, dos fogos, da guerra e do caos”, Paraíso dá continuação ao Inferno (obra para coro, orquestra e multi-instrumentista) que o compositor revelou em Janeiro de 2020.
O mestre como novo
António Chainho tem um novo espectáculo. A estreia acontece no Alentejo que o viu nascer e, além de inaugurar uma nova fase, realiza-se um dia depois de completar 85 anos – factor que, nas palavras do grande mestre e embaixador da guitarra portuguesa, torna o concerto “ainda mais especial e emotivo”.
Ladeado por Ciro Bertini (baixo acústico), Miguel Silva (viola de fado) e o quarteto de cordas Naked Lunch, Chainho viaja pela música que foi marcando a sua longa carreira e, sem dar mostras de pousar a guitarra, promete adiantar notas do disco que se prepara para editar ainda neste trimestre.
O social é para Monstrare
Um adolescente em busca do pai desaparecido num Alentejo remoto em Vadio, a primeira longa de Simão Cayatte. Outro sob A Acusação de ter violado uma rapariga, com Yvan Attal atrás das câmaras e Charlotte Gainsbourg no elenco. Um pacto entre três jovens incompreendidos, filmado por Gonçalo Galvão Teles em Nunca Nada Aconteceu. E o olhar de Sara Leal sobre A Fajã Onde o Tempo Não Mora.
Estes são alguns dos momentos da nona edição da Monstrare, a mostra de cinema algarvio vocacionada para dar voz a temáticas sociais através da sétima arte. Organizada pelo Loulé Film Office e integrada na Algarve Film Week, exibe também The Infernal Machine, de Andrew Hunt, dá a conhecer a nova série de Bernardo Lopes e Francisco Mira Godinho (Lugar 54), e ainda proporciona sessões de curtas, workshops, uma masterclass com o realizador Artur Ribeiro, conversas e os prémios Cinetendinha.