Fogões eléctricos ou a gás? A segurança, o impacto no clima e outras dúvidas

A uma crise energética que acelerou o passo na direcção de alternativas ao gás juntam-se os avisos de especialistas sobre a segurança dos fogões que temos em casa. Vamos proibir os fogões a gás?

Foto
Nos EUA a proibição de fogões a gás já está em cima da mesa Reuters/WOLFGANG RATTAY

O tipo de fogão que tem em casa é determinado por múltiplos factores. O principal entre eles é o tipo de ligação que tem – a gás ou eléctrica – e se pode mudar isso. As pessoas que vivem em casas arrendadas ou moradias em banda que partilham o mesmo sistema de abastecimento podem ter menor escolha. Mas, se tiver o luxo de poder escolher, pode ter em conta os seus hábitos culinários, o seu orçamento e a sua casa. Mas há outros factores que, em breve, podem influenciar a decisão pessoal de muita gente, como o ambiente e novas normas e leis por parte do governo.

Este mês um grupo de organizações não governamentais alertou para os riscos do uso de fogões a gás, destacando o caso de Portugal entre os outros países europeus. O relatório Expondo os impactos desconhecidos na saúde de cozinhar com gás concluiu que os fogões a gás violam várias vezes por semana as normas de poluição atmosférica da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da União Europeia (UE), e que essa poluição é responsável por quase 10 mil casos de asma entre crianças portuguesas.

Da autoria da CLASP, uma organização internacional que promove a eficiência energética desde 1999, e da Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA), uma aliança de quase uma centena de organizações europeias, o relatório especifica que cozinhar a gás numa cozinha típica dos países do Sul da Europa, sem ventilação mecânica, causa poluição por dióxido de azoto (NO2) no interior das casas numa proporção que excede várias vezes por semana as directrizes da qualidade do ar da OMS e as normas de poluição atmosférica da UE.

Proibição em cima da mesa

Os autores do documento acusam a UE de não estar a usar os poderes legais existentes para proibir os fogões a gás ou pelo menos alertar os consumidores para os riscos para a saúde, com rótulos nesse sentido.

De acordo com o documento, 144 milhões de cidadãos da UE (35%) estão expostos regularmente à poluição causada pelo gás de cozinha, incluindo 10% dos lares portugueses e mais de metade de todos os lares em Itália, Países Baixos, Roménia e Hungria. Os responsáveis dizem recear que a situação se agrave neste Inverno, devido à crise energética, já que muitas pessoas deverão reduzir a ventilação das casas para não as arrefecer e poupar dinheiro no aquecimento.

Nos EUA a proibição de fogões a gás já está em cima da mesa. Num artigo de Shannon Osaka, no The Washington Post, Richard Trumka Jr., um dos comissários da U.S. Consumer Product Safety Commission, disse em entrevista que a agência estava a ponderar lançar uma proibição de fogões a gás – ou pelo menos normas em torno da quantidade de fumos tóxicos que tais fogões podem libertar nas casas americanas. Várias cidades já decretaram a proibição de fogões a gás em novas residências.

É evidente que isto é apenas o início da luta, uma vez que os lobbyistas e legisladores vão discutir durante algum tempo se os fogões a gás vão ou não tornar-se obsoletos. Mas a polémica é mais do que teórica. O que quer que aconteça terá um impacto prático na vida das cozinhas domésticas. Então o que precisa de saber sobre as diferenças entre os fogões a gás, eléctricos tradicionais e de indução? Vamos comparar.

Como funcionam

  • Gás: os fogões a gás dependem de uma mistura de combustível de oxigénio e gás que flui mais ou menos, dependendo de como se roda o botão de controlo. Os utensílios de cozinha são aquecidos pela chama aberta.
  • Eléctrico tradicional: também conhecidos como “fogões radiantes”, estes aparelhos dependem do lento processo de condução do calor de uma bobina para os utensílios de cozinha. Essas bobinas podem ser expostas, como se pode encontrar em modelos mais antigos, ou sob uma superfície lisa de vidro cerâmico.
  • Indução: os fogões de indução utilizam bobinas de cobre sob a cerâmica para criar um campo magnético que envia impulsos para os utensílios de cozinha. Isto faz com que os electrões na panela ou panela se movam mais rapidamente, resultando em calor.

Segurança e impacto climático

  • Gás: este é o cerne das proibições que estão a ser decretadas e consideradas. “Quando um fogão a gás está ligado, liberta não só peças finas de partículas que podem invadir os pulmões, mas também dióxido de azoto, monóxido de carbono e formaldeído – todos eles ligados a vários riscos para a saúde”, escreve Shannon ​Osaka.

    Em termos de impacto climático, mais ligações a gás tornam muito mais difícil o afastamento dos combustíveis fósseis. E, por outro lado, a investigação mostra que os fogões a gás emitem o metano de gás com efeito de estufa. Quanto a outras questões de segurança, as chamas abertas e os botões acessíveis dos fogões a gás podem representar uma preocupação especial para os lares com crianças pequenas e animais de estimação.
  • Eléctricos tradicionais: os modelos eléctricos tradicionais não emitem poluentes no interior. Porém, devido ao calor que sai das bobinas qualquer coisa que entre em contacto com os queimadores pode começar a aquecer ou mesmo a pegar fogo. A maioria das casas ainda depende de combustíveis fósseis, mas fica em aberto a possibilidade de uma mudança para fontes de energia renováveis.
  • Indução: tal como os fogões eléctricos tradicionais, os fogões de indução não libertam poluentes no interior, e, no futuro, podem ser alimentados por energia renovável. Estes fogões não ficam muito quentes, uma vez que aquecem apenas fogões compatíveis, embora algum calor residual dos fogões possa ser transferido de npvo para a superfície cerâmica.

Capacidade de resposta e manutenção do calor

  • Gás: os fogões a gás são muito reactivos, movendo-se facilmente entre temperaturas. A chama encolhe ou cresce à medida que se roda o botão. Com o gás consegue-se muito bem manter a temperatura em lume brando, mas não é tão estável em geral como a electricidade.
  • Electricidade tradicional: os modelos eléctricos tradicionais demoram normalmente mais tempo a aquecer ou a arrefecer. Devido ao potencial de calor residual, por vezes corre-se o risco de queimar alimentos, quando se passa de calor alto para baixo, razão pela qual alguns peritos recomendam a troca de queimadores, se for necessário baixar rapidamente a temperatura. No entanto, uma vez atingida essa temperatura mais baixa, os dados disponíveis em relatórios de entidades dedicadas à defesa dos consumidores dizem que as gamas eléctricas em geral primam pela manutenção de uma temperatura mais baixa.
  • Indução: tal como o gás, os fogões de indução são muito sensíveis a mudanças na regulação do calor. Os dados concluem que a água ferve 20 a 40 por cento mais depressa do que nos melhores queimadores a gás ou eléctricos. Com a indução é possível manter uma temperatura relativamente baixa, em lume brando; todavia, pode ser necessário utilizar uma temperatura ligeiramente mais alta do que a que está habituado, uma vez que a indução responde de tal modo que uma opção pela potência mais baixa pode ser mais fria do que se espera.

Limpeza

  • Gás: os fogões a gás podem ser um verdadeiro desafio para limpar, graças às grelhas e cavidades por baixo.
  • Electricidade tradicional: modelos radiantes com queimadores expostos põem alguns dos mesmos desafios que os fogões a gás em termos de limpeza. Os fogões de cerâmica são muito mais simples de limpar, embora o calor residual signifique que se pode queimar mais comida na superfície após derrames.
  • Indução: os tampos de cozinha de indução são tão fáceis de limpar como outros modelos com tampos cerâmicos. É menos provável que tenha de lidar com alimentos incrustados na superfície, uma vez que não ficam tão quentes.

Custos

Se estiver a mudar de gás para indução (ou electricidade tradicional), tem de considerar o preço de mudar as suas ligações à rede e outros possíveis encargos. Se não tiver panelas que sejam compatíveis com a indução, isso seria também um custo adicional, embora muitas panelas comuns, incluindo ferro fundido, aço inoxidável e algumas de material antiaderente, já o sejam. Alumínio, cobre puro, vidro e cerâmica não o são.

Embora a indução seja mais eficiente em termos energéticos do que fogões a gás ou eléctricos mais antigos, porque a transferência directa de energia significa que não se perde calor para o ar, mantenha as suas expectativas sobre a factura energética sob controlo. Pode obter algumas poupanças modestas mas nada de dramático, especialmente porque os aparelhos de cozinha representam apenas cerca de 2% do seu consumo doméstico de energia.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários