Não foi assim há tanto tempo que o buraco na camada do ozono era considerado uma das grandes preocupações ambientais. Falávamos disso nas escolas, os professores mostravam-nos a importância desta camada para a vida da Terra e explicavam-nos como é que estava a ser destruída. A sua presença nas notícias era constante.

Agora que se sabe que a camada do ozono está a curar-se, a cicatrizar as suas feridas antigas e que estamos no caminho certo para que esteja reparada daqui a quatro décadas, houve quem encarasse a notícia com incredulidade – o que se viu nos comentários que esta notícia teve nas redes sociais do PÚBLICO e do Azul, por exemplo. E até se compreende: como é que um problema que parecia outrora tão intangível e alarmante pode estar agora quase resolvido? A resposta é simples: as medidas que tomámos resultaram.

Pode parecer bizarro, mas os frigoríficos e os sprays para o cabelo estavam, indirectamente, a ameaçar a vida na Terra. Foi uma das razões que nos levaram ao Protocolo de Montreal, um acordo global assinado em 1987 que permitiu que fossem gradualmente eliminados os gases que estavam a destruir a camada do ozono. Eram sobretudo clorofluorcarbonetos (CFC), utilizados como gases em aparelhos de ar condicionado, frigoríficos e em latas de aerossóis. Reduziram-se em 99%.

Quando os CFC aí presentes se misturavam com o ar, ascendiam à atmosfera, causando reacções químicas que destruíam o ozono. Convém dizer que não se trata verdadeiramente de um "buraco": acabam por ser zonas em que esta camada de ozono é mais fina. Desde aí, houve uma "notável recuperação" desta camada estratosférica. A reparação da camada do ozono foi, portanto, conseguida através desta eliminação gradual dos gases que a destroem.

Já passaram 35 anos desde que as nações se comprometeram a deixar de produzir esses compostos químicos que "devoram" o ozono. Os resultados animadores tornaram-se públicos na semana passada, através de um novo relatório das Nações Unidas, publicado a cada quatro anos: com as medidas actuais, a camada do ozono sobre a Antárctida deverá recuperar até 2066 para os níveis de 1980; no Árctico, será mais veloz e deverá recuperar até 2045; e no resto do mundo deverá recuperar já até 2040. A recuperação é lenta, mas são boas notícias.

E porque é esta camada importante? A camada do ozono é o "protector solar" da Terra: protege-nos da radiação ultravioleta solar e impede que chegue à superfície. Sem camada do ozono, ficamos expostos a esta radiação nociva para os seres vivos que habitam o planeta: sejam plantas ou animais. No caso dos humanos, pode provocar cancro da pele e debilitar o sistema imunitário. Este é o ozono "amigo", diferente do ozono de superfície – o chamado "ozono mau", que é poluente e pode ser letal para os humanos.

A comunidade científica tem encarado esta cooperação internacional como um caminho a seguir na acção climática, como nos diz a jornalista Andréia Azevedo Soares num artigo de perguntas e respostas sobre a camada do ozono, publicado no Azul. A destruição da camada do ozono aconteceu por causa da intervenção humana, mas foi também a cooperação humana que a salvou dos males por nós causados. E pode ser aplicada noutros contextos.

Foi isso mesmo que deu a entender Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial: "O nosso sucesso na eliminação gradual dos produtos químicos que estavam a causar danos na camada de ozono mostra-nos o que pode e deve ser feito – com carácter de urgência – para fazer a transição dos combustíveis fósseis, reduzir os gases com efeito de estufa e assim limitar o aumento da temperatura". É quase uma lição. Os CFC foram um inimigo, mas as emissões de dióxido de carbono e de outros gases com efeito de estufa que estão a agravar o aquecimento global e a ter inúmeras consequências na vida da Terra são o inimigo de hoje – e há que combatê-lo.

A mensagem mais importante parece ser essa: as medidas funcionam, mas têm de ser definidas e cumpridas o quanto antes. E todos podemos fazer parte. Caso contrário, o problema não vai desaparecer sozinho.