Espanha e França assinam tratado para enfrentar “momento crítico” da União Europeia

Pedro Sánchez e Emmanuel Macron falaram sobre os desafios da descarbonização e dos preços da energia, e alertaram para o crescimento da extrema-direita.

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Macron e Sánchez durante a cimeira, que decorreu em Barcelona EPA/ANDREU DALMAU

Os governos de Espanha e de França assinaram um acordo que aprofunda as relações bilaterais em quase todas as áreas, e que lança as bases de uma frente comum para influenciar os destinos da União Europeia.

O Tratado de Amizade e Cooperação é o primeiro do género entre Madrid e Paris e reflecte os receios dos dois países sobre o investimento dos Estados Unidos na descarbonização e o crescimento da extrema-direita na Europa, entre outros temas.

Na cerimónia de assinatura, que decorreu em Barcelona, o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciaram o lançamento de uma política de "intercâmbio" entre os respectivos conselhos de ministros.

De três em três meses, um ministro do Governo espanhol participará no conselho de ministros de França, e vice-versa – e os dois lados vão estabelecer "consultas periódicas" sobre política externa.

Em traços gerais, o acordo centra-se em três grandes áreas, todas elas indissociáveis da ideia – partilhada por Madrid e Paris – de que a UE não está preparada para enfrentar com rapidez e eficácia alguns dos maiores desafios da actualidade: a grande aposta dos EUA na descarbonização da economia, que ameaça a indústria europeia a curto prazo; o crescimento da extrema-direita; e a escalada dos preços da energia como resultado da invasão da Ucrânia pela Rússia.

"A Europa está num momento crítico por causa de decisões dos EUA que ameaçam a nossa indústria, mas nós saberemos reagir de forma positiva, tal como fizemos durante a pandemia", disse Sánchez, referindo-se ao pacote de 400 mil milhões de dólares em incentivos à descarbonização que foi aprovado pelo Congresso norte-americano.

"Congratulamo-nos com o compromisso dos EUA com a transição verde, mas temos de evitar que isso implique a desindustrialização da Europa. Os investimentos perdem-se num emaranhado burocrático europeu, temos de ser mais ágeis", avisou o líder do Governo espanhol.

Ao lado de Sánchez, o Presidente francês salientou a ameaça do crescimento da extrema-direita, um movimento "que não é igual aos outros".

"Trata-se de nacionalismo, do ódio ao outro", disse Macron. "Eu sou patriota, mas para ser patriota francês não preciso de declarar guerra à Alemanha ou a Espanha. A extrema-direita quer mudar o Estado de direito, controlar a Justiça, atacar a liberdade dos jornalistas, e está relacionada com a xenofobia", disse Macron.

Num terceiro nível, Espanha e França formalizaram a intenção de reformar o mercado energético europeu, à imagem do que aconteceu com a excepção criada para a Península Ibérica. Sánchez e Macron disseram que os dois países têm "visões muito semelhantes" sobre o assunto, que irão levar a discussão na próxima cimeira europeia.

A assinatura do tratado ficou marcada por uma manifestação de independentistas catalães. O presidente do governo da Catalunha, Pere Aragonès, esteve no arranque da cimeira e transmitiu a Macron o interesse da região na aproximação entre os dois lados da fronteira, mas abandonou a cerimónia antes do hino espanhol.

"O Governo de Espanha quis simbolizar uma normalidade que não existe", disse Aragonès. "Não vamos dar cobertura à presença do chefe do Exército espanhol na Catalunha."

Enquanto Macron se encontrava com Sánchez em Espanha, os trabalhadores franceses cumpriam uma greve geral e juntavam-se a marchas em todo o país, travando comboios e cortando a produção de electricidade em protesto contra os planos do Governo de aumentar a idade de reforma em dois anos, para os 64.

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