Inundações e fenómenos extremos: emergência climática ou mau planeamento urbano?

O sistema de drenagem de uma determinada cidade, por mais eficiente que seja, não tem a capacidade dos solos. A falta de presença de espaços verdes suficientes impossibilita a absorção.

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Guillermo Vidal

Actualmente, está em voga apelidar todos os fenómenos, minimamente extremos, de “alterações climáticas”. Em cidades afectadas, inexoravelmente, por estas “alterações”, surge a grande questão: fenómeno climático ou planeamento urbano? Não digo, num cômputo geral, que as mudanças climáticas não existem. Se o dissesse, aliás, iria contra a minha formação em Geografia. As mudanças climáticas ocorrem, assim, por necessidade de maiores transferências de energia do Equador, que é a zona de maior recessão energética, para os pólos, zonas de maior emissão energética. Sabendo, portanto, que as mudanças climáticas não têm um efeito, muda-se completamente a forma como vemos a cidade.

A cidade, do ponto de vista geográfico, tem empurrado as fábricas para a periferia por custos de transporte, impostos, impactos na saúde e preço do solo. Estas migrações levam a uma limpeza do ar respirável da cidade, reduzindo, de uma forma generalizada, a poluição sonora, ambiental, etc. Quando ocorrem precipitações extraordinárias, a cidade terá de absorver ou drenar a água em excesso. O problema, contudo, resume-se a isto: absorver ou drenar. As cidades portuguesas e europeias, de um modo geral, são extremamente impermeabilizadas. As sucessivas construções de betão e asfalto levam a solos que não têm capacidade de absorver a água. E se esta não é absorvida, então ficará na superfície. O sistema de drenagem de uma determinada cidade, por mais eficiente que seja, não tem a capacidade dos solos. A falta de presença de espaços verdes suficientes impossibilita a absorção.

Assim, as inundações, fenómenos extremos de precipitação, são, sem dúvida, agravadas não pelas mudanças climáticas, mas pelo ordenamento do território. Aldeias, com grandes expressões de espaços verdes, não têm o mesmo comportamento que uma cidade. A aldeia, com “terra”, absorve muita mais água que uma cidade de betão. Cidades com pavimentos calcetados têm, em relação ao asfalto, melhores comportamentos de absorção, permitindo maiores escoamentos e também menores custos de manutenção, para além do carácter estético.

Ao pensar-se numa mudança climática deve-se, principalmente, pensar em adaptação de cidades. Não é a neutralidade carbónica que levará ao fim das alterações importantes para o desenvolvimento terrestre. A humanidade deve, portanto, adaptar-se, adaptando as cidades. Exemplos como ruas calcetadas, com árvores a ladear as estradas ou uma rede de parques e zonas verdes suficientemente amplas e concordantes com uma rede de drenagem eficiente, possibilitam, a custos relativamente baixos, uma adaptação às cidades portuguesas.

A própria conversão das redes de iluminação, reduzindo a factura das cidades e, progressivamente, a necessidade energética, afigura-se como um investimento que, ainda que mascarado, se vem mostrando eficiente. Em carácter de desafio, se as cidades procurarem uma estratégia municipal de centralização das gerações mais jovens, isso levará a menores emissões.

As inundações como fenómeno climático ou planeamento urbano? Por estas e mais razões, diria mau planeamento.

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