Japão continua a ser o último resistente à subida dos juros

Banco central japonês surpreende mercados e mantém taxas de juro a zero. Recente subida da inflação não chega para mudar rumo da política monetária num país ainda com medo da deflação.

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Haruhiko Kuroda, governador do Banco do Japão Reuters/KIM KYUNG-HOON

Num mundo em que todos os outros bancos centrais das maiores economias estão, desde o ano passado, a subir de forma agressiva as taxas de juro para contrariar a inflação, o Banco do Japão insiste em ser a excepção.

Esta quarta-feira, a autoridade monetária nipónica contrariou aquelas que eram as expectativas generalizadas nos mercados financeiros e decidiu não fazer qualquer alteração à sua política monetária, mantendo as suas taxas de juro de referência aos níveis mínimos em que já se encontram há vários anos.

Na penúltima reunião com Haruhiko Kuroda como governador, o banco central manteve a meta de -0,1% para as taxas de juro de curto prazo e não alterou o intervalo centrado em zero para a taxa de juro a 10 anos das obrigações, apesar de nos últimos meses os mercados terem estado a pressionar fortemente o seu limite superior.

De facto, entre os investidores, a expectativa era a de que, embora mais tarde que todos os outros, o Banco do Japão começasse no início deste ano a tornar a sua política monetária progressivamente menos expansionista. Afinal de contas, apesar de não ter sentido uma escalada da inflação semelhante às registadas na Europa ou nos EUA, a economia japonesa vinha, nos últimos meses, a registar uma clara aceleração dos preços. Em Novembro, a taxa de inflação japonesa atingiu os 3,8%, o valor mais alto nos últimos 41 anos.

No entanto, Haruhiko Kuroda, que se retira da liderança do banco central a seguir à próxima reunião de Março, parece não estar convencido que o problema da economia do Japão tenha já passado de ter taxas de inflação demasiado baixas para subidas de preços demasiado altas.

Desde do anos 90 do século passado que o banco central japonês tem estado em luta permanente contra o risco de deflação, aplicando uma política ultra expansionista de taxas de juro zero e compras de activos para estimular o consumo e o investimento. Haruhiko Kuroda e os outros responsáveis da autoridade monetária já assistiram, ao longo das últimas décadas a pequenos surtos de inflação que acabaram por recuar rapidamente ficando o Japão novamente a ter de lidar com fortes pressões deflacionistas.

É isto que o Banco do Japão agora estima que possa voltar a acontecer. Esta quarta-feira, apesar de ter revisto ligeiramente em alta, de 2,9% para 3%, a sua previsão de inflação média para o presente ano fiscal (que termina em Março), manteve a projecção de uma inflação de apenas 1,6% para o ano fiscal de 2023. Para além disso, passou a prever um crescimento mais baixo da economia.

Isto é, o banco prevê que o recuo da inflação seja relativamente rápido e, por isso, não quer estar a impor uma política monetária mais restritiva que possa trazer de regresso aquela que tem sido, há já muito tempo, a grande ameaça para o desempenho da economia japonesa: a deflação.

O principal problema por trás desta insistência do Banco do Japão numa política expansionista quando todos os bancos centrais estão a fazer o contrário é que o valor da sua divisa nos mercados internacionais se pode ressentir.

Nos últimos meses, perante a expectativa de uma mudança na política monetária no Japão, o iene tinha vindo a recuperar o seu valor face ao dólar e a outras divisas, mas imediatamente após o anúncio da decisão de manter as políticas inalteradas, registou uma quebra de 2%. Vários analistas consideram que, até à próxima reunião do banco central, uma grande volatilidade irá marcar a evolução da divisa, com alguns investidores a acreditarem que o Banco do Japão não irá mudar de rumo e outros a apostarem que, seja na última reunião de Haruhiko Kuroda, seja a seguir à sua saída, a política monetária nipónica irá finalmente alterar-se.

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