A interdependência como arma: a globalização em reverso

Em antítese com a visão do comércio e da interdependência como antídotos da guerra, muitos questionam agora se a interdependência criada pela globalização não está, ela própria, no cerne do problema.

1. A ideia de que o comércio internacional contribui para a paz tem raízes antigas no pensamento ocidental. Em meados do século XVIII, Montesquieu escrevia no seu manuscrito Do Espírito das Leis (1748), no capítulo 2 do livro XX, no qual reflectia sobre o espírito do comércio, que “o efeito natural do comércio é trazer a paz. Duas nações que fazem comércio entre si tornam-se reciprocamente dependentes: se uma tem interesse em comprar, a outra tem interesse em vender; e todas a uniões são fundadas em necessidades mútuas”. Este texto de Montesquieu contém a inspiração filosófica para o pensamento liberal contemporâneo, a qual vê no comércio internacional e na interdependência poderosos antídotos para evitar guerras. No início do século XX, a ideia foi claramente formulada pelo britânico Norman Angell numa publicação nas vésperas da I Guerra Mundial intitulada A Grande Ilusão (1910). Este notava que tinha surgido uma “tal relação de dependência recíproca entre as capitais do mundo que qualquer perturbação” se repercutia rapidamente entre estas. No sector financeiro existia “uma dependência mútua de Nova Iorque e Londres, de Londres e Paris, e de Paris e Berlim num grau sem precedentes na história” (ver Norman Angell, A Grande Ilusão, trad. br, Imprensa Oficial do Estado/Editora Universidade de Brasília, São Paulo, 2002. pp. 40-41). Assim, a elevada interdependência financeira e económica no mundo moderno tornavam irracional o recurso à guerra.

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