Meditação ajuda na saúde intestinal e no sistema imunitário, diz novo estudo

Os cientistas compararam amostras de sangue de 37 monges tibetanos com as de pessoas comuns a viver perto dos templos. Descobriram que meditar pode ajudar a regular a flora intestinal.

Foto
Meditar pode também potenciar o sistema anti-inflamatório, além de influenciar o metabolismo Paulo Pimenta/Arquivo

Durante a pandemia, a Organização Mundial de Saúde aconselhou a prática de meditação como um exercício para ajudar a controlar a ansiedade, angústia e medo e há muito que se conhecem os seus benefícios para o bem-estar. Agora, um novo estudo diz que meditar pode também ajudar à saúde intestinal, bem como a reduzir o risco de depressão e problemas cardíacos, reforçando o sistema imunitário.

A investigação, liderada por cientistas do Centro de Saúde Mental de Xangai da Universidade de Medicina Jiao Tong, na China, analisou amostras de sangue de 37 monges tibetanos de três templos e de 19 pessoas “comuns” a viver na vizinhança. Os resultados, divulgados na General Psychiatry, publicado pelo British Medical Journal, dão conta que a meditação profunda pode ter influência na regulação da flora intestinal.

“A microbiota enriquecida nos monges estava associada com um risco menor de ansiedade, depressão e doenças cardiovasculares, potenciando o sistema imunitário”, pode ler-se nas conclusões do artigo científico. “Em suma, estes resultados sugerem que a meditação desempenha um papel positivo em patologias psicossomáticas e no bem-estar.”

Os efeitos de que falam os cientistas não são, contudo, a curto prazo. Os monges que participaram no estudo praticaram pelo menos duas horas de meditação por dia durante um período de três a 30 anos. Este tipo de meditação tibetana é uma forma de treino psicológico com origem na antiga medicina indiana, esclarecem os investigadores.

Nenhum dos monges analisados tinha tomado quaisquer substâncias que pudesse alterar o volume ou a diversidade dos micróbios presentes na flora intestinal — como antibióticos, probióticos ou medicamentos antifúngicos — nos últimos três meses. Foram tidos em conta outros factores como a idade, a pressão arterial, a frequência cardíaca ou a dieta.

Depois, foram comparados os valores da microbiota intestinal destes monges com os de outras pessoas a viver na vizinhança. “As bactérias presentes no grupo que medita tiveram um impacto positivo na saúde”, asseveram os investigadores. Uma flora intestinal desequilibrada pode contribuir para uma variedade de sintomas gastrintestinais, alterações do apetite e peso, níveis de açúcar e colesterol no sangue mais elevados, entre outros problemas de saúde.

Nesse sentido, os investigadores concluíram que meditar potencia o sistema anti-inflamatório, além de influenciar o metabolismo. As amostras de sangue recolhidas verificaram ainda que o risco de doenças cardiovascular era “significativamente mais baixo” nos monges.

Apesar dos resultados promissores, os cientistas lembram que a amostra é reduzida e que todos os participantes do estudo eram homens a viver em altitude, o que também poderá tornar mais difícil extrapolar conclusões para a população em geral. Ainda assim, restam cada vez menos dúvidas quanto aos benefícios da meditação para o bem-estar.

Dicas para meditar

Há vários anos que diversas celebridades apregoam os benefícios desta prática. Recentemente, o actor Tom Hanks contou ter a agradecer ao comediante Jerry Sienfeld o seu amor pela meditação, por ter sido ele a sugerir que começasse a fazê-lo. “Se toda a gente devia fazê-lo? Claro, por que não?”, apelou a estrela no programa NBC Today.

Em 2020, a supermodelo brasileira Gisele Bündchen ensinou a meditar através da aplicação Insight Timer, para partilhar a forma como este exercício de mindfulness mudou a sua vida e dar dicas para fazer deste um hábito diário.

Para tornar a meditação parte dos seus dias, é mesmo preciso criar uma rotina, dizem os especialistas. O ideal será definir de antemão os dias e horas em que pode meditar e cumprir esse horário. E não desista à primeira, incentivava Vera Simões, professora de ioga: “Daí, dia após dia, vai adquirir maior calma, maior presença.”

Apesar de os monges meditarem pelo menos duas horas por dia, é natural que não consiga encaixar tanto tempo na agenda. Só cinco minutos podem fazer a diferença para sentir alguns benefícios para o bem-estar, sobretudo a nível da saúde mental. E se precisar de ajuda, não faltam aplicações para o telemóvel que ajudam iniciantes, bem como áudios disponíveis nas várias plataformas digitais.

Sugerir correcção
Comentar