No ano passado, arderam perto de 28 mil hectares em áreas protegidas

Ardeu 3,5% da rede de áreas protegidas, o quarto pior valor em 48 anos. Um quarto do Parque Natural da Serra da Estrela foi destruído pelos incêndios de 2022, o número mais alto desde 1975.

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Em 2022, ardeu um quarto da área do Parque Natural da Serra da Estrela Teresa Pacheco Miranda

No ano passado, arderam perto de 28 mil hectares em áreas protegidas, o que significa que os incêndios rurais danificaram 3,5% dos 800 mil hectares desta rede nacional composta por 52 espaços com especial valor ecológico. O número foi adiantado ao PÚBLICO pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que faz esta contabilidade.

Segundo dados daquela entidade, 2022 foi o quarto pior ano para as áreas protegidas dos últimos 48 anos. Desde 1975, quando começam os registos, só 2017 (41.690 hectares), 2003 (32.768) e 1985 (39.602) contabilizam maior área ardida na rede de zonas protegidas.

"No ano de 2022, e tendo em consideração os dados provisórios do Sistema de Gestão de Informação de Fogos Florestais, ocorreram incêndios rurais em 13 das 52 áreas protegidas integrantes da Rede Nacional de Áreas Protegidas, os quais percorreram 27.863ha e afectaram 3,5% da superfície total da rede", precisa o ICNF, numa resposta escrita enviada ao PÚBLICO. Essa área corresponde a um quarto do total ardido no ano passado, 110 mil hectares.

As estatísticas mostram ainda que o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), que viu 25% da sua área destruída pelos incêndios de 2022 (quase 22 mil hectares), nunca tinha registado uma área ardida tão elevada desde o 25 de Abril. Os incêndios só tiveram um impacto semelhante naquele parque natural em 2017, quando queimaram uma área de 21 mil hectares. Até então, só uma vez, em 2005, os fogos tinham passado a fasquia dos dez mil hectares no PNSE.

Só o grande incêndio que percorreu a serra da Estrela de um lado ao outro em Agosto passado consumiu mais de 24 mil hectares, 13.600 dos quais em área florestal, 8700 em zonas de matos e 2000 em área agrícola. Uma parte do incêndio afectou zonas fora do parque natural. Mas não há dúvidas de que o incêndio que deflagrou a 6 de Agosto na Vila do Carvalho, na Covilhã, e se reactivou mais de uma semana depois, terá sido, se não o maior, um dos maiores incêndios de sempre em áreas protegidas. O PNSE é a segunda maior área protegida em Portugal, com 89.132 hectares, pouco menos que a primeira, o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, que contabiliza mais 437 hectares.

No rescaldo deste incêndio, o ICNF reconheceu, em comunicado, tendo em conta a dimensão da área ardida, a situação orográfica da mesma, os habitats e as espécies da flora e da fauna afectados, que os incêndios naquela área "causaram efeitos negativos muito significativos em locais de sensibilidade ecológica elevada".

Outra área protegida particularmente fustigada no ano passado devido aos incêndios foi o Parque Natural do Alvão, situado nos concelhos de Mondim de Basto e de Vila Real, que viu os fogos destruírem 19% da sua área, o que corresponde a 1355 hectares.

Mais ardeu no único parque nacional do país, o da Peneda-Gerês, onde os incêndios danificaram 1788 hectares, que correspondem a 2,5% da sua área total. Também em Montesinho arderam 1548 hectares, que correspondem a 2% da sua área.

Nos últimos 47 anos (1975-2021) arderam, em média e por ano, 11.575 hectares na Rede Nacional de Área Protegidas, que ao longo de todo este período viu serem queimados 544 mil hectares.

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