Rússia e Bielorrússia estreitam laços, mas é improvável que Minsk intervenha na guerra

Os dois aliados iniciam esta segunda-feira exercícios militares aéreos que vêm na sequência de uma intensificação da cooperação militar e política entre ambos.

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Militares ucranianos patrulham região fronteiriça com a Bielorrússia para prevenir nova ofensiva GLEB GARANICH / Reuters

A Bielorrússia e a Rússia vão iniciar esta segunda-feira exercícios militares aéreos conjuntos, numa altura em que a articulação entre os dois países aliados mostra sinais de um reforço cada vez maior. Porém, mantêm-se as garantias de que a Bielorrússia não pretende intervir directamente na guerra entre Moscovo e Kiev.

Os exercícios conjuntos vão durar até dia 1 de Fevereiro e vão decorrer em “todos aeródromos e áreas de treino” da Força Aérea bielorrussa, de acordo com o Ministério da Defesa, citado pela agência estatal BelTA.

A divulgação do calendário dos exercícios surge poucos dias depois de os dois países aliados terem anunciado um reforço da presença militar na Bielorrússia justificado para “garantir a segurança militar da União da Bielorrússia e da Rússia”, disse o Governo de Minsk, utilizando a expressão que designa a aliança económica e militar entre os dois países que vigora desde 1997. “Pessoal, armamento e equipamento militar e especial das forças da Federação Russa vão continuar a chegar à República da Bielorrússia”, informou o Ministério da Defesa bielorrusso na semana passada.

A Bielorrússia tem sido o principal aliado da Rússia e, embora não participe directamente na invasão da Ucrânia, tem tido um papel importante no apoio às ofensivas russas. Foi a partir do país vizinho que as forças russas lançaram os primeiros ataques contra o Norte da Ucrânia e contra Kiev, a 24 de Fevereiro do ano passado. Para além disso, o espaço aéreo bielorrusso tem sido utilizado pela Rússia para lançar ataques com mísseis e drones contra alvos na Ucrânia.

O apoio dado pelo regime liderado por Alexander Lukashenko a Moscovo tem levado a União Europeia a aprovar vários pacotes de sanções também contra a Bielorrússia que se juntam a medidas punitivas anteriores adoptadas na sequência das eleições presidenciais de 2020 consideradas fraudulentas.

Nas últimas semanas, a cooperação entre os dois aliados tem sido intensificada, o que tem aumentado os receios de que a Bielorrússia esteja prestes a participar directamente na invasão. Em Dezembro, o Presidente russo, Vladimir Putin, visitou Minsk – algo que não acontecia desde 2019 –, onde foi recebido por Lukashenko. No encontro, os dois líderes trocaram promessas de apoio incondicional e o Presidente bielorrusso chegou mesmo a dizer que o seu país não pode proteger a sua independência sozinho.

Na semana passada, um dirigente do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo disse que um ataque ucraniano à Bielorrússia poderia levar o país a entrar no conflito. “De um ponto de vista legal, o uso de força militar pelo regime de Kiev ou a invasão do território da Bielorrússia ou da Rússia pelas Forças Armadas ucranianas são suficientes para justificar uma resposta colectiva”, afirmou Aleksei Polishchuk numa entrevista à agência estatal TASS.

As autoridades ucranianas têm excluído, para já, a possibilidade de o regime de Minsk avançar directamente para o conflito, embora admitam estar a preparar-se para uma nova ofensiva a partir da Bielorrússia. “Consideramos que, para além de declarações poderosas, não vemos nada de poderoso ali”, afirmou o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na semana passada.

O chefe da administração militar de Kiev, Serhii Popko, desvalorizou, por seu turno, os exercícios militares que decorrem a partir desta segunda-feira. “Eu não associaria estes exercícios da Força Aérea, que vão ocorrer no território da Bielorrússia, a ataques maciços de mísseis”, disse o responsável.

Os especialistas também consideram bastante improvável a intervenção directa da Bielorrússia na guerra, dado que não se trata de uma opção desejável do ponto de vista de Lukashenko, que atravessou recentemente um período de forte contestação interna. “A participação nesta guerra seria extremamente impopular: todas as sondagens existentes mostram que mais de 90% dos bielorrussos não desejam enviar o Exército para lá”, disse ao Guardian o analista político Artiom Shraibman.

No entanto, adverte que o cálculo de Lukashenko poderá sofrer alterações no futuro, sobretudo se a pressão de Putin para uma entrada da Bielorrússia na ofensiva aumentar. “Se ele exigir um envolvimento directo de Lukashenko na guerra, não consigo apostar que ele seja capaz de resistir com sucesso para sempre”, explicou o analista.

Mais do que a intervenção directa da Bielorrússia na guerra, a principal preocupação das autoridades ucranianas neste momento está ligada à possibilidade de as forças russas ensaiarem uma nova ofensiva pelo Norte do país para tentar chegar novamente a Kiev. Vários responsáveis militares ucranianos têm sublinhado este receio e dizem estar a contemplar o cenário de uma nova ofensiva deste género para Fevereiro ou Março.

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