Presidenciais checas à volta de um militar, um multimilionário e uma reitora

Nenhuma das candidaturas deverá conseguir uma vitória à primeira volta. Para já, o favorito é o antigo chefe do comité militar da NATO, Petr Pavel.

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Petr Pavel pode ser para já o favorito, mas há espaço para surpresas nas eleições na República Checa MARTIN DIVISEK/EPA

A única certeza das eleições presidenciais checas desta sexta-feira e deste sábado é que vai haver uma segunda volta. Para essa segunda volta, há três candidatos com hipóteses de passar à segunda volta, dentro de 15 dias – o ex-primeiro-ministro Andrej Babis, o antigo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e que foi também presidente do Comité Militar da NATO Petr Pavel, e a antiga reitora Danuse Nerudova.

“Não ficaria surpreendido, se houver uma surpresa”, disse Sean Hanley, professor de Política do Centro e Leste Europeu na University College London à Euronews.

Entre os três candidatos que se destacam num total de oito, as atenções estão centradas em Babis, que acabou de ser absolvido num processo de corrupção, o que, apontam vários observadores, deverá melhorar as suas hipóteses de disputar a segunda volta. De seguida surge o militar Pavel, e em terceiro em todas as sondagens Nerudova.

Mas não é preciso recuar muito para que sondagens tenham errado no país: nas últimas eleições legislativas, a vitória de Babis era o cenário previsto – mas o multimilionário acabou por ser derrotado por uma aliança de partidos que se uniram contra ele. Ainda assim, há quem defenda que a surpresa se deveu a revelações, muito perto da data das eleições, dos Pandora Papers, de que Babis comprara um castelo no Sul de França, mas que fizera o dinheiro passar por três empresas offshore para que o negócio se mantivesse secreto.

Desta vez, no entanto, Babis poderá beneficiar da absolvição no processo de fraude de que teria retirado uma quinta de um conglomerado para que este fosse elegível para fundos europeus.

A maior surpresa seria, para a Euronews, se o multimilionário não chegasse à segunda volta. Mas na segunda volta as sondagens apontam para o cenário contrário: que Babis perderá quer com Pavel, quer com Nerudova.

O candidato populista não deverá conseguir muito mais votos além da sua base, diz o diário britânico The Guardian, contando ainda que Babis só se candidatou depois de fazer uma volta pelo país numa autocaravana “numa campanha não oficial em que desdenhou dos estimados 400 mil refugiados ucranianos na República Checa e expressou cepticismo sobre a ajuda militar à Ucrânia”.

“Do seu ponto de vista, há demasiado poder, demasiada ajuda à Ucrânia e também aos refugiados ucranianos”, declarou Lubomir Kopecek, professor de Ciência Política na Universidade Masaryk à Voice of America. Mesmo assim, Kopecek não prevê que, ainda que fosse eleito, Babis pudesse ser semelhante ao actual Presidente, Milos Zeman, que adoptou uma postura pró-Moscovo e pró-Pequim, que acabou por reverter depois da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Sem cair nesse extremo, e mesmo que o Presidente não tenha muito poder, se Babis ocupasse o cargo poderia trazer dificuldades ao actual Governo, que tem tido uma posição fortemente pró-ucraniana após a invasão russa.

Ao contrário de Pavel, que defende o curso actual e que tem, pelo seu lado, sublinhado as suas credenciais de alto responsável da NATO (é um de quatro militares das Nações Unidas condecorados por França por terem salvado 55 soldados franceses na Bósnia em 1993, destaca o site Global Voices).

Já Nedurova chegou a liderar algumas sondagens, mas desceu depois de ter sido lançada uma investigação a doutoramentos dados a estudantes de países estrangeiros pela universidade que dirigia.

A candidata, que com 44 anos é a mais nova e a única mulher entre os oito, tem apresentado Babis e Pavel como “relíquias do passado” (com acusações de ligações a estruturas do regime comunista), e ela própria como “o futuro”, tentando motivar eleitores mais jovens a votar em si, diz o Guardian.

Contudo, como comentou ao diário britânico Bohumil Kartous, activista político e comentador checo, o passado soviético do general pode acabar por ser uma vantagem entre eleitores mais velhos que viveram esses tempos. “Pensam que todos tiveram dificuldades e enfrentámo-las juntos e por isso ele sabe mais do que Danuse Nerudova”, declarou. “Os eleitores mais velhos vão ser cruciais para o resultado final.”

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