No Mosteiro da Batalha, Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão vão inspirar jantares temáticos

O programa de jantares integra as festas de 40 anos da Batalha como Património Mundial e decorrerá no Verão

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Mosteiro da Batalha daniel rocha

Um almoço de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão na Batalha, no século XIX, inspira o programa de jantares temáticos que o Mosteiro da Batalha inicia em 2023, revelou o director daquele monumento Património Mundial da UNESCO.

O projecto integra a programação que assinala os 40 anos de inscrição do monumento como Património Mundial e terá lugar entre Julho e Outubro, combinando gastronomia, animação teatral, conferências e estudos, explicou à agência Lusa Joaquim Ruivo.

"Serão jantares temáticos enquadrados por estudos e conferências sobre gastronomia, área cada vez mais valorizada no contexto do património cultural, em abordagens motivadas por alguma ligação gastronómica ao Mosteiro ou à vila", avançou.

O ponto de partida será um almoço que Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão fizeram na Batalha, como está descrito na obra "Eça de Queiroz, memórias da sua estada em Leiria, 1870-71", de Júlio de Sousa e Costa.

"No livro, o autor conta que eles foram visitar o Mosteiro da Batalha, "num lindo dia de inverno de 1870 ou 71". Ramalho Ortigão faz o maior elogio ao almoço, numa casa de pasto da Batalha, onde comeram uma sopa de feijão saloio, um arroz de cenoura com pimentos e leitão assado no forno. "Tocava as raias do maravilhoso!", descreveram".

É essa refeição que inspira o lançamento dos jantares temáticos no Mosteiro da Batalha, projecto que conta com a colaboração do município da Batalha e da investigadora em História da Alimentação Carmen Soares, da Universidade de Coimbra, e que "será muito apelativo".

"Há mais de 20 anos fez-se a recriação no Mosteiro de uma refeição servida na época de D. Manuel I, rei que em 1500 criou o concelho da Batalha", recordou Joaquim Ruivo.

Agora, pretende-se levar mais longe essa experiência, abordando nos próximos anos a alimentação nos séculos XVII ou XVIII, "a que foi servida aqui no Mosteiro da Batalha aos visitantes estrangeiros, como o inglês William Beckford ou o irlandês James Murphy, que descreveram essa experiência", ou até a da Idade Média.

A programação que assinala os 40 anos de entrada do Mosteiro da Batalha na lista da UNESCO contempla ainda várias exposições, a começar com "11 compositores no mosteiro", de António Carmo, patente a partir de sábado no novo espaço expositivo do monumento.

Entre outras de pintura, haverá também uma instalação fotográfica de Jorge Prata, com colaboração de Pedro Redol, e uma exposição de Nelson Ferreira, artista plástico português a residir em Londres. Para Setembro, há uma exposição de Florentina Voichi, "uma das mais reputadas artistas plásticas romenas", em colaboração com o Instituto Cultural Romeno e da Embaixada Romena.

Trajes medievais também motivam uma exposição, em parceria com o município e empresas mundiais de guarda-roupa e adereços para cinema.

A nível musical, um dos destaques é a sexta edição do festival Artes à Vila, que levará nomes da música nacional a vários espaços do monumento entre os dias 23 e 25 de Junho.

No campo da reflexão, o Mosteiro receberá a conferência Internacional "The Tools of the Art: New Perspectives on the History of Astrological Doctrines and Practices" ("Ferramentas da arte: Novas perspectivas sobre a história das doutrinas e práticas astrológicas"), o quarto seminário internacional "Arquitecturas da alma" e um encontro de trabalho com autores de manuais de História.

O programa do Mosteiro para 2023 contempla ainda o lançamento de várias obras, como "Em louvor da água - Estudos de hidráulica monástico-conventual", de Virgolino Jorge, "Ceuta, a chave do Mediterrâneo", de João Paulo Oliveira e Costa, "Heráldica batalhina - Uma introdução", de Miguel Metelo Seixas, "Mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa", de Amélia Aguiar Andrade, "Estudo epigráfico e tradução do latim para português das inscrição do túmulo conjugal de D. João I e D. Filipa de Lencastre", da autoria de Filipa Avelar, Saul António Gomes e António Rebelo, e "Os músicos do portal principal da igreja do mosteiro de Santa Maria da Vitória e a práxis da época", de Luís Correia de Sousa.

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