Quem é Valeri Guerasimov, arquitecto da invasão da Ucrânia e novo líder das tropas no país?

Valeri Guerasimov, de 67 anos, substitui a partir desta quarta-feira o general Serguei Surovikin, que tinha chegado ao comando das tropas russas em Outubro passado.

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Valery Gerasimov foi durante a última década o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia REUTERS/Maxim Shemetov

Aos 67 anos, e depois de uma década no cargo de chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o general russo Valeri Guerasimov​ assumiu esta quarta-feira o comando das tropas russas destacadas para a "operação militar especial" na Ucrânia. Substitui, assim, Serguei Surovikin, que esteve apenas três meses ao comando das unidades militares no país vizinho.

Com uma carreira militar já longa, faz parte do círculo de confiança de Vladimir Putin e é conhecido por ter criado a "Doutrina Guerasimov". Segundo vários analistas ocidentais, a sua teoria, semelhante à ideia de guerra híbrida, não traz, contudo, nada de novo.

Guerasimov quis redefinir o conceito de conflito internacional, colocando as ofensivas militares ao mesmo nível de outras acções políticas, económicas ou humanitárias, enquanto métodos para alcançar os objectivos do Estado. A doutrina, divulgada um ano antes da anexação da Crimeia, em 2014, é associada à ocupação russa da Ucrânia, onde foram aplicadas as suas ideias.

A partir daí, para as Forças Armadas da Rússia, a guerra tornou-se mais do que um conflito armado. Nela incluem-se medidas não militares como a aplicação de sanções económicas, o rompimento de laços diplomáticos, além do aumento da pressão política sobre os seus adversários. A par das armas, a informação tornou-se também instrumento de guerra.

Guerasimov defendeu ainda “ataques dirigidos a território inimigo e a destruição de infra-estruturas essenciais civis e militares”, para diminuir a capacidade militar e económica do adversário.

De facto, desde Fevereiro passado, a Rússia isolou-se, não hesitou em cortar relações económicas e políticas com várias nações ocidentais, manipulou informações sobre a guerra e impôs fortes restrições à liberdade de expressão e de imprensa, e foi acusada de utilizar a fome e o frio como armas de guerra.

Enquanto chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Valeri Guerasimov​ tornou-se o estratega por detrás das operações militares russas e terá arquitectado, em conjunto com o Presidente russo, Vladimir Putin, e o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, a “operação militar especial” na Ucrânia.

Ainda assim, em Dezembro de 2021, dois meses antes da invasão, Guerasimov garantiu à agência turca Anadolu que a “informação sobre a alegada invasão iminente da Ucrânia pela Rússia é uma mentira”, culpando Kiev e os Estados Unidos por um aumento da tensão entre os dois países no Donbass, onde o Kremlin já reconhecia as autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.

Desde Abril de 2014 que faz parte da lista de pessoas sancionadas pela União Europeia por “acções que comprometem ou ameaçam a integridade territorial, soberania e independência da Ucrânia”. O seu nome chegou à “lista negra” dos Estados Unidos a 25 de Fevereiro de 2022.

Descrito pelo Ministério da Defesa como “herói” da Federação Russa, Guerasimov comandou as tropas russas em Moscovo e São Petersburgo e chegou, em 2010, a vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Comandou ainda uma divisão do Exército russo no antigo distrito militar do Norte do Cáucaso, durante a segunda guerra da Tchetchénia.

Em Maio passado, o general foi notícia por ter escapado a um ataque das forças ucranianas. Terá sido o próprio Presidente, Vladimir Putin, a enviar Guerasimov para a frente de batalha, em Izium, na região de Kharkiv, num esforço para “mudar o rumo” da ofensiva russa. Informadas pelos serviços secretos ucranianos, as forças de Kiev bombardearam um dos locais que visitou no Nordeste do país, mas Guerasimov já estaria de regresso a Moscovo.

"A presença de um oficial de tão alta patente na linha da frente é altamente invulgar e vem no meio do que os analistas militares ocidentais descrevem como uma desordem crescente no seio das forças russas”, explicou, à data, o The New York Times.

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