O órgão de tubos da Igreja da Lapa foi reabilitado e vai voltar a ouvir-se

O instrumento construído em 1995 esteve três anos sem funcionar. O investimento de 200 mil euros - 80 mil pagos pela Câmara do Porto - serviu para substituir peças desgastadas pelo tempo

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O órgão de tubos da Igreja da Lapa foi construído em 1995 pelo alemão Georg Jann (1934-2019) Carlos Costa/Igreja da Lapa

Esteve três anos em silêncio, mas a partir desta quarta-feira à noite voltará a ouvir-se. Os trabalhos de reabilitação do monumental órgão de tubos da Igreja da Lapa, pagos pela comunidade de devotos e pela Câmara do Porto, já foram concluídos e o instrumento está pronto a ser novamente usado. Para assinalar a reinauguração, o organista titular da Catedral de Notre-Damme de Paris, um dos primeiros de sempre a sentar-se à frente do órgão, regressa à Lapa para um dos vários concertos que se pretendem agendar durante o ano no mesmo local.

Já foi o maior em funcionamento no país, quando foi construído em 1995 pelo alemão Georg Jann (1934-2019). Agora é o que está na basílica do santuário de Fátima, reabilitado há uns anos, que assume essa posição. Quem o diz é Filipe Veríssimo, mestre-capela da Igreja da Lapa, apesar de relegar para segundo plano qualquer ranking feito sobre esta matéria.

Mais importante, acredita, é a relevância cultural que o órgão tem para a cidade e as características sonoras ímpares que diz ter. Com cerca de 32 toneladas, 15 metros de altura, 10,5 metros de largura e 5 metros de profundidade, 4 teclados e 4500 tubos, de acordo com descrição do site da câmara, foi concebido de raiz para o espaço onde está pelo construtor alemão, que pouco depois da construção do instrumento se mudou para perto do Porto.

Essa circunstância permite ao órgão sinfónico todas as vantagens para beneficiar de uma qualidade sonora superior. “Vemos órgãos à venda em segunda mão de outras igrejas que não vão ter as mesmas características acústicas noutras. Mas este instrumento foi feito a pensar em determinada acústica. Este foi concebido para o espaço onde está. Houve um cuidado esmerado do organeiro, um génio nesse aspecto, de dar voz ao órgão no espaço. [Georg Jann] era um harmonizador”, afirma.

Construído há 28 anos, por vontade do Cónego Ferreira dos Santos e desenhado pelo mesmo organeiro responsável pelos órgãos de tubos da Sé Catedral do Porto, da Igreja de S. Francisco, das Igrejas dos Grilos, da Senhora da Esperança, da Trindade, do Senhor de Matosinhos, de Mafamude e da Capela das Almas, já apresentava algum desgaste.

Segundo Filipe Veríssimo, substituíram-se “peças gastas e oxidadas, alguns foles”, a componente eléctrica, “que estava obsoleta”, e voltou-se a harmonizar o instrumento, “por causa de alguns pós que adulteraram o som original”. Ao todo investiram-se 200 mil euros – 80 mil pagos pela câmara – na reabilitação do órgão de tubos que em 1995 custou “200 mil contos” (1 milhão de euros).

“Sem desrespeitar a harmonização original do génio, a empresa a quem foi dado o trabalho corrigiu o que era necessário”, diz. Também foi preciso resolver alguns problemas de “humidade nas paredes e no tecto” da igreja, que contribuíram para o desgaste do órgão. “Foram resolvidos”, assegura.

Hoje, o mesmo instrumento vale “3 ou 4 milhões de euros”, arrisca. Com a manutenção correcta e regular pode durar “décadas”.

O mestre-capela da Igreja da Lapa salienta a “beleza da caixa” do órgão, e os “brancos das madeiras, colmatados com dourados”. E aprecia a forma como se conseguiu preservar um vitral que representa um presépio, que é “o significado de Lapa”. Pediu-se na altura em que foi construído que não se tapasse o vitral. O desejo cumpriu-se e a obra ganhou destaque no centro do órgão. “Apesar de ter sido construído em 1995, parece que o instrumento foi construído em simultâneo com igreja, que é de 1756 [data do início da construção]”, sublinha.

O “monumental órgão de tubos da Lapa” voltará a ouvir-se, depois de três anos em silêncio, nesta quarta-feira à noite, às 21h30, quando Olivier Latry, organista titular da Catedral de Notre-Dame de Paris, iniciar o seu sexto concerto no mesmo local – a primeira foi em 1995, quando o órgão foi inaugurado. Este concerto será um de muitos que se pretendem organizar: “Quando o órgão ficou calado, a actividade da Lapa recuou um bocadinho. O objectivo é fazer novamente parte da elite cultural da cidade. Este é o pontapé de saída.”

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