Confrontos entre manifestantes e polícias fazem pelo menos 17 mortos no Sul do Peru
Número total de mortos desde a destituição de Castillo, no início de Dezembro, já vai em 46. Manifestantes exigem demissão da Presidente Boluarte.
O número de mortos nos confrontos entre manifestantes e a polícia na cidade de Juliaca, no Sul do Peru, subiu para 17, divulgou na segunda-feira a Provedoria do Povo.
No mais recente balanço dos protestos que pedem o afastamento da Presidente Dina Boluarte, a Provedoria do Povo informa que as 17 pessoas morreram “devido a confrontos com as forças de segurança”.
Entre os mortos em Juliaca está pelo menos um menor de idade (17 anos) e a maioria são jovens, entre os 19 e 35 anos, segundo as autoridades médicas da região.
Um bebé de 35 semanas morreu na região de Puno porque a ambulância que o transportava para um hospital ficou parada num dos bloqueios de manifestantes, divulgou, em comunicado, na segunda-feira, a Direcção Regional da Saúde.
A criança tinha sido atendida no domingo e encaminhada para outro hospital devido a uma insuficiência respiratória e sepsia, mas a transferência “não aconteceu porque houve dificuldades para a passagem da ambulância em Molino, distrito de Juli, província de Chucuito”, em Puno.
O número de mortos desde 11 de Dezembro aumentou para 46 pessoas em todo o país, naquele que é o sexto dia de protestos após a trégua de Natal, noticiou a agência Efe.
Os confrontos violentos no Sul do Peru levaram à interrupção repentina da reunião de segunda-feira do grupo que reúne representantes de três os poderes do Estado, governadores regionais, diversos sectores estatais e organizações empresariais e cívicas.
O primeiro-ministro do Peru, Alberto Otárola, acusou na segunda-feira os manifestantes de tentarem um “ataque organizado ao Estado de Direito e às instituições” e um “golpe de Estado” no país.
Numa conferência de imprensa sem direito a perguntas, Otárola afirmou que os confrontos foram “um ataque organizado e sistemático de vandalismo e organizações violentas contra o estado de direito e as instituições” de região Sul de Puno.
“Como se estivessem num cenário de guerra, tentaram tomar o aeroporto”, disse, afirmando que a responsabilidade é “dos que querem dar o golpe”.
No anterior ponto de situação, a Provedoria do Povo tinha instado as forças de segurança a “fazerem um uso legal, necessário e proporcional da força” e pedido ao Ministério Público para realizar “uma investigação célere para esclarecimento dos factos”.
Na segunda-feira, o Comité Internacional da Cruz Vermelha para o Peru, Bolívia e Equador manifestou preocupação com a nova escalada de violência nos protestos no Peru e pediu às autoridades do país que respeitem a proporcionalidade do uso da força.
O Peru atravessa uma crise política e social devido às manifestações que abalam o país desde a destituição do ex-Presidente Pedro Castillo, a 7 de Dezembro, quando este quis dissolver o Parlamento para convocar uma assembleia constituinte, criar um Governo de emergência e governar por decreto, o que foi interpretado como uma tentativa de golpe de Estado.
Após a detenção de Castillo, que ficará 18 meses em prisão preventiva, os deputados transferiram o poder para a vice-presidente, Dina Boluarte, mas os protestos e manifestações continuaram.
Entre outras reivindicações, os manifestantes exigem a antecipação das eleições – marcadas pelo novo Governo para 2024 – a dissolução do Congresso, a convocação de uma assembleia constituinte, a demissão de Boluarte e a libertação de Castillo.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) vai realizar uma visita de observação ao Peru entre 11 e 13 de Janeiro, para observar a situação dos direitos humanos no país.
A CIDH detalhou na segunda-feira em comunicado que a missão viajará a Lima e outras cidades para “reunir, discutir e receber informações de diversos sectores”.
Com PÚBLICO